O 1º de maio ainda ecoa. Em 2009, os ritos que marcam esse dia foram vivenciados de maneira diferente do que nos anos anteriores. Novos fatos perpassaram as celebrações e os protestos. Da crise, que se mostrou a tônica dos discursos, à gripe A, que esvaziou as manifestações no México, algumas antigas novas questões estiveram colocadas nesse último Dia do Trabalhador.
Nesse contexto, inúmeros discursos foram apresentados e, em muitos, possíveis soluções para a crise econômica foram proclamadas. Assim como por várias vezes haviam feito os representantes dos governos, das corporações, dos movimentos sociais e dos anticapitalistas, os porta-vozes da classe trabalhadora também lançaram sua opinião.
E, a partir dessas falas, é interessante perceber duas coisas. Primeiro: como visões bastante heterogêneas podem ser identificadas nesse grupo denominado os trabalhadores. Segundo: como o discurso em defesa do emprego, ainda que proferido por sindicalistas e proletários, assume tons muito similares àqueles que imperam entre patrões e governantes.
Momentos como o atual, em que equilíbrios artificiais são quebrados, ajudam a expor mais claramente algumas fraturas do sistema. Afinal de contas, qual o lugar do trabalho em nossa sociedade?
Para além das manifestações, das celebrações e dos discursos de 1º de maio, esse tópico constitui ponto nodal da crise atual. Não que o trabalho seja a sua causa. Fatores ligados à descontrolada especulação financeira e a não sustentabilidade de vorazes mecanismos de produção são muito mais importantes para a explicação do desencadeamento do presente cenário econômico.
Apesar disso, a crise atual tem atingido diretamente os empregos, nas mais diversas partes do mundo, resultado da extrema interdependência entre as economias globalizadas. E quando se fala em emprego, logo se coloca em pauta o tema do trabalho.
E, afinal de contas, essa crise, que teve sua origem imediata no mercado financeiro, também põe em xeque o trabalho?
Creio que sim.
E aí são diversos os elementos a se elencar em favor dessa idéia. Primeiramente podemos nos questionar sobre as fragilidades do emprego no contexto atual. Até quando postos de trabalho e, principalmente, a vida de quem os ocupa continuará sendo item de barganha das grandes corporações? Para sua geração tudo se justifica: isenção de impostos, suspensão de normas contra a poluição, danos ambientais, construções irregulares, desocupação de áreas pobres para a edificação de indústrias... Para sua manutenção tudo deve ser feito: ajudas milionárias pagas com dinheiro público, flexibilização de direitos trabalhistas... e tudo isso com a conivência de governos e sindicatos.
Se há uma coisa que a crise econômica deixou bem clara, é que no atual sistema o Capital nunca perde. E um dos seus grandes trunfos consiste na posse dos empregos, no poder de criá-los e extingui-los.
Mas quem conferiu esse poder às corporações? Ele se baseia apenas na concentração de capital ou encontra respaldo social?
Defendo que não se pode explicar essa situação apenas do ponto de vista do poder econômico das corporações. Vivemos em uma sociedade na qual a atual organização do trabalho tornou-se quase que inquestionável. Suas defesas assumem o tom de dogmas e tudo parece muito natural. A produção dos bens necessários à humanidade feita de outra forma é dada como impossível. O que nos resta é o trabalho tal como o conhecemos.
Outras alternativas, contudo, sempre foram colocadas. No atual momento de crise econômica iniciativas nesse sentido aumentam e revelam diferentes caminhos possíveis. Nessa perspectiva, as ocupações de fábricas, em especial, das que ameaçavam fechar sem pagar seus funcionários aumentaram significativamente.
E, com a tomada das indústrias, vêm as iniciativas de autogestão. Em tempos de crise econômica e inconseqüências do tão propalado mercado racional, responsável e auto-regulado, os trabalhadores dão mostras de que estão dispostos a assumir o poder sobre seus empregos.
Como defendeu Chomsky em recente entrevista, uma das saídas que se enxerga nesse momento de crise econômica é a participação direta dos trabalhadores, que deveriam, em conjunto, assumir a direção das corporações falidas. Ao invés de se nacionalizar essas empresas, onde as decisões continuariam sendo tomadas de cima para baixo, a implantação de sistemas de autogestão horizontal representaria oportunidade de se vivenciar administração verdadeiramente democrática.
Apesar de se apresentar como interessante alternativa, a autogestão por si só não significa a instauração de uma nova forma de se vivenciar o trabalho. Antigas experiências mostraram que, em muitos casos, a direção por parte dos funcionários representou apenas um plano de emergência, que por não rever os moldes em que a produção estava baseada, logo se desintegrou, com a retomada dos esquemas clássicos de administração capitalista.
As próprias pressões externas decorrentes da tentativa de implantação de novas formas de gerência em uma empresa que deverá responder a demandas que ainda estão baseadas no atendimento a um mercado capitalista são comprometedoras das experiências autogestionárias. Ou seja, é possível manter uma indústria sem torná-la competitiva? É possível torná-la competitiva sem utilizar modelos hierárquicos?
Mesmo com os obstáculos, a autogestão parece ser um importante caminho a ser explorado, não apenas em tempos de crise. Por meio dela, trabalhadores poderão retomar não só seus empregos, mas também avançar para além das limitações colocadas pela Sociedade do Trabalho.
Nesse contexto, inúmeros discursos foram apresentados e, em muitos, possíveis soluções para a crise econômica foram proclamadas. Assim como por várias vezes haviam feito os representantes dos governos, das corporações, dos movimentos sociais e dos anticapitalistas, os porta-vozes da classe trabalhadora também lançaram sua opinião.
E, a partir dessas falas, é interessante perceber duas coisas. Primeiro: como visões bastante heterogêneas podem ser identificadas nesse grupo denominado os trabalhadores. Segundo: como o discurso em defesa do emprego, ainda que proferido por sindicalistas e proletários, assume tons muito similares àqueles que imperam entre patrões e governantes.
Momentos como o atual, em que equilíbrios artificiais são quebrados, ajudam a expor mais claramente algumas fraturas do sistema. Afinal de contas, qual o lugar do trabalho em nossa sociedade?
Para além das manifestações, das celebrações e dos discursos de 1º de maio, esse tópico constitui ponto nodal da crise atual. Não que o trabalho seja a sua causa. Fatores ligados à descontrolada especulação financeira e a não sustentabilidade de vorazes mecanismos de produção são muito mais importantes para a explicação do desencadeamento do presente cenário econômico.
Apesar disso, a crise atual tem atingido diretamente os empregos, nas mais diversas partes do mundo, resultado da extrema interdependência entre as economias globalizadas. E quando se fala em emprego, logo se coloca em pauta o tema do trabalho.
E, afinal de contas, essa crise, que teve sua origem imediata no mercado financeiro, também põe em xeque o trabalho?
Creio que sim.
E aí são diversos os elementos a se elencar em favor dessa idéia. Primeiramente podemos nos questionar sobre as fragilidades do emprego no contexto atual. Até quando postos de trabalho e, principalmente, a vida de quem os ocupa continuará sendo item de barganha das grandes corporações? Para sua geração tudo se justifica: isenção de impostos, suspensão de normas contra a poluição, danos ambientais, construções irregulares, desocupação de áreas pobres para a edificação de indústrias... Para sua manutenção tudo deve ser feito: ajudas milionárias pagas com dinheiro público, flexibilização de direitos trabalhistas... e tudo isso com a conivência de governos e sindicatos.
Se há uma coisa que a crise econômica deixou bem clara, é que no atual sistema o Capital nunca perde. E um dos seus grandes trunfos consiste na posse dos empregos, no poder de criá-los e extingui-los.
Mas quem conferiu esse poder às corporações? Ele se baseia apenas na concentração de capital ou encontra respaldo social?
Defendo que não se pode explicar essa situação apenas do ponto de vista do poder econômico das corporações. Vivemos em uma sociedade na qual a atual organização do trabalho tornou-se quase que inquestionável. Suas defesas assumem o tom de dogmas e tudo parece muito natural. A produção dos bens necessários à humanidade feita de outra forma é dada como impossível. O que nos resta é o trabalho tal como o conhecemos.
Outras alternativas, contudo, sempre foram colocadas. No atual momento de crise econômica iniciativas nesse sentido aumentam e revelam diferentes caminhos possíveis. Nessa perspectiva, as ocupações de fábricas, em especial, das que ameaçavam fechar sem pagar seus funcionários aumentaram significativamente.
E, com a tomada das indústrias, vêm as iniciativas de autogestão. Em tempos de crise econômica e inconseqüências do tão propalado mercado racional, responsável e auto-regulado, os trabalhadores dão mostras de que estão dispostos a assumir o poder sobre seus empregos.
Como defendeu Chomsky em recente entrevista, uma das saídas que se enxerga nesse momento de crise econômica é a participação direta dos trabalhadores, que deveriam, em conjunto, assumir a direção das corporações falidas. Ao invés de se nacionalizar essas empresas, onde as decisões continuariam sendo tomadas de cima para baixo, a implantação de sistemas de autogestão horizontal representaria oportunidade de se vivenciar administração verdadeiramente democrática.
Apesar de se apresentar como interessante alternativa, a autogestão por si só não significa a instauração de uma nova forma de se vivenciar o trabalho. Antigas experiências mostraram que, em muitos casos, a direção por parte dos funcionários representou apenas um plano de emergência, que por não rever os moldes em que a produção estava baseada, logo se desintegrou, com a retomada dos esquemas clássicos de administração capitalista.
As próprias pressões externas decorrentes da tentativa de implantação de novas formas de gerência em uma empresa que deverá responder a demandas que ainda estão baseadas no atendimento a um mercado capitalista são comprometedoras das experiências autogestionárias. Ou seja, é possível manter uma indústria sem torná-la competitiva? É possível torná-la competitiva sem utilizar modelos hierárquicos?
Mesmo com os obstáculos, a autogestão parece ser um importante caminho a ser explorado, não apenas em tempos de crise. Por meio dela, trabalhadores poderão retomar não só seus empregos, mas também avançar para além das limitações colocadas pela Sociedade do Trabalho.
Existe um cooperativismo forte no Brasil, dê uma olhada na net que você acha bastante coisa. Mas o engraçado é que ele está enraizado naquelas discussões de economia solidária do PT, daqueles teóricos da terceira via inglesa e tal. Então, na verdade, é bem esse ponto de que você tratou no texto: o cooperativismo é usado para, obviamente, melhorar as relações de trabaho como um todo, e autonomia de quem trabalha no local etc. Mas a lógica como um todo não deixa de estar arraigada na idéia de competitividade, mercado e etc. Na verdade, muitos partilham do cooperativismo apenas por o perceberem como um modelo administrativo mais eficaz...muitas vezes a cooperação permanece apenas no âmbito do capital, de modo que as relações de trabalho dentro da própria cooperativas permanece as mesmas de sempre. Pra irmos além, deve-se questionar outro ponto além do 'trabalho', que é a questão do consumismo, aí sim estaríamos atacando o outro grande eixo do sistema: que é a produção pela produção e o consumo para além das necessidades. Mas esse parece ser mais complicado do que o trabalho, pois, afinal de contas, trabalhar éuma bosta...já gastar 5000 conto no shopping...como desconstruir isso??!!
ResponderExcluirMeus caros, mto bons questionamentos!
ResponderExcluirRealmente, o modelo de cooperativas é uma alternativa mais humana, porém o problema pode ser justamente o humano... Será uma necessária uma discussão sobre a "natureza do homem"? Gente, sinceramente, é complicado: cada vez acredito menos na nossa humanidade... Estou de saco cheio de tanta competitividade... Será que as pessoas enxergam motivação somente naquele que é o "the best"? E aí, quem dá mais?? Qual o maior lance??
Valeu Hilario..boa idéia..qualquer hora faremos um post pra pensar a natureza humana...mas calma lá, não desanime...o mesmo que compete, também sabe ser solidário...o que agride, também ama e etc. Aliás, pra mim seria essa mesma a natureza humana. O que precisamos é de novas instituições sociais que valorizem menos a competição e mais a cooperação! Sacou?!
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