quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ele não tem tempo para o anarquismo



Ele já acorda se sentindo atrasado. Uma ânsia profunda e certa dificuldade de respirar são sensações que o acompanharão durante o dia inteiro. Debaixo do chuveiro sua sonolência é despertada pelos pequenos tuchos de cabelos que saem de sua cabeça, peito e costas. O café matinal tem gosto de fel, mas ao menos serve para prepará-lo para a pior parte do dia.

A saída da garagem traz um momento de tensão, a qualquer instante um preto encapuzado pode bater no vidro do carro com o cano do revólver e mandá-lo descer, felizmente não foi dessa vez, Ele tem uma pequena vitória e quase esboçaria um sorriso se não soubesse o que vem logo adiante. Ele se vê flutuando em um caudaloso rio de automóveis, pequenos cárceres que se movem sobre quatro rodas. Cada metro da rua é disputado com agressividade similar a de soldados se batendo por uma trincheira em Verdum. A morosidade e as pequenas injúrias trocadas nessas vias, terras de ninguém, consomem as baixas possibilidades d’Ele se sentir bem humorado.

Estacionar sua cela luxuosa é outro desafio, perde-se alguns minutos, mas enfim Ele emerge para o exterior, já aquecido para a verdadeira batalha. Sua face respinga suor, a gravata não está alinhada, de qualquer forma Ele sai com sua maleta bem segura, enquanto a mão esquerda bate a porta do veículo e aciona a trave eletrônica. Antes mesmo de entrar no prédio envidraçado (uma suntuosa prisão de cristal) seu celular começa a gritar, realmente, novamente, consequentemente está atrasado, uma reunião sobre metas inatingíveis a serem atingidas o espera.

O ar condicionado do elevador é um pequeno paraíso, preparação para o desgraçado dia que se seguirá. Reuniões e pressões. Memorandos e pareceres. Ligações do exterior que o aguardam. Ofícios do Alto Staff caem em suas mãos trazendo uma única mensagem: ganhe mais. Almoço interrompido por novos gritos do celular, atrasado outra vez, e nem sabe o porquê.

Meu Deus, hoje ainda é terça-feira, pensa Ele.

Durante a tarde sua sonolência retorna, Ele não pode fechar os olhos, funcionário modelo. Quando o dia começa a se findar sua sala fica avermelhada com a luminosidade do crepúsculo, é tempo de voltar para a casa. Sem a chance de ver o sol poente Ele se aprisiona mais uma vez dentro do seu veículo. Um retorno sempre mais brutal do que se imagina, enjaulado na cápsula de metal deseja gritar até seus pulmões explodirem, sua civilidade impede tal desfaçatez.

Ele almeja atravessar aquele lamaçal urbano, abrir o portão automático do seu pequeno castelo com um click mágico e lá se refugiar. Jantar balanceado, alienação televisiva e sexo frugal com sua esposa loira o aguardam. Depois Ele poderá se render ao coma profundo de toda a noite, facilitado por algumas drogas legais. No dia seguinte estará pronto, ou quase, para uma reedição do seu tormento anterior.

Bem sucedido, vencedor, paladino do capitalismo, Ele não tem tempo para o anarquismo, incapaz de retirar duas horas do dia para sentar ao seu lado e conversar. Faça esse convite e rirá de você. Pai de família, com contas a pagar, final do ano viaja para Disney e já antecipa o pagamento de dívidas que ainda não contraiu. Ele vai falar que nada está errado. Do que reclamamos? Ele pergunta, certo, há coisas erradas, mas a culpa pertence a esse governo que distribui esmolas para a população, acelere a economia, dinamize o mercado e no final melhorias serão sentidas. Tudo bem, Ele reconhece, o pleno emprego jamais será atingido, os mais esforçados triunfarão.

Ele não tem tempo para o anarquismo, pois tem que vencer no jogo da vida. Até o dia em que o câncer de próstata começar a consumi-lo não perceberá sua infelicidade. ele se esquece com demasiada facilidade da janela, aquela janela, aberta para um céu tão azul. Recusa o pensamento de que um dia pensou em ultrapassá-la, cometendo defenestração contra si mesmo.

Se aquele é um homem livre, não me mostre o prisioneiro, se aquilo que ele vive se chama felicidade tenho receio de encontrar um pobre infeliz.

ele não tem tempo para o anarquismo, pois já consagrou sua vida ao sacerdócio do ódio cotidiano e à auto-mutilação invisível. Não há uma úlcera em seu estômago, aquela queimação é seu íntimo gritando socorro:

Saia daqui seu idiota, não vê que está nos matando?

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O Trabalho Liberta! Será mesmo? (parte 01)


Trabalho e Consumo. São os dois nós que detonam a possibilidade de uma sociedade mais justa, autônoma e sustentável. E nesse fatídico 1º de maio, em que a sociedade do trabalho se vê numa de suas piores crises, pretendo fazer um exercício de desconstrução desse que consiste no maior e mais bem enraizado absurdo tido como óbvio: o Trabalho (em outra ocasião discutirei a questão do consumo).

“Mas como assim? Como poderia o trabalho ser um empecilho à uma sociedade virtuosa? Ele é o nosso próprio ser! O que seria de mim sem o trabalho? É o centro de referências da minha identidade! É o que me mantém! É o único caminho possível para a felicidade!”

Nos primeiros contatos com textos que fazem uma crítica radical ao trabalho, não compreendi bem qual era ponto. Parecia coisa de vagabundos que queriam ficar à toa o dia todo, ou de intelectuais de gabinete que ganhavam 10.000 e ficavam pensando em merdas ao invés de fazerem algo que prestasse. Mero engano...a pretensa ‘indispensabilidade do trabalho’ é algo tão assentado em nossas vidas, tão intocado no mais profundo de nosso ser, que a primeira sensação de crítica a ela surge como um sacrilégio. Mas pensemos com mais calma...

Se no século XVI, um cidadão europeu chegasse para sua esposa e dissesse: “Será mesmo que Deus existe?” Muito provavelmente as conseqüências disso seriam 1)“Meu marido está louco” (dado ser pergunta sem o mínimo sentido naquela ocasião) e 2)Fogueira. O tempo passou, vieram o Movimento Iluminista, a Razão e o Humanismo e, depois de muitos assassinatos, torturas e perseguições, a idéia de um Deus como razão de nossa existência foi por água abaixo. Não estou fazendo aqui uma ode ao ateísmo, mas apenas colocando que, no mundo moderno, Deus ocupa só o espaço da porta da sua casa pra dentro, ou seja, ele deixa de ser algo totalizante, que explica, julga e governa a todos.

O problema disso tudo é que a “morte de Deus” não deixou a humanidade mais livre, já que o homem moderno criou para si outro deus, que substituiu o recém chutado: o Trabalho.

No mundo moderno, que habitamos, o Trabalho virou algo portador de um fim em si mesmo. Você trabalha porque...tem que trabalhar uai! Inicialmente, lá nos idos dos séculos XVII até o XIX, isso não era normal, de forma que foram necessários, novamente, assassinatos, torturas e perseguições, para que fosse aceita a férrea disciplina do trabalho voltado para a produção de excedente, a privatização da terra e das fábricas e a conversão dos camponeses ligados à terra em mão-de-obra barata, disciplinada, obediente e idiotizada – como somos hoje, idiotas!

O ponto central da crítica é o seguinte: trabalhamos, trabalhamos e trabalhamos pra gerar acumulação e valor somente (e isso acontece tanto no paraíso capitalista do consumo inveterado, quando no inferno comunista/socialista das planícies russas e chinesas ou dos charutos cubanos). E pronto! A ligação dessa produção com nossas reais necessidades e com uma relação decente junto ao ecossistema não importa em nada! A roda da economia tem que continuar girando e foda-se todo o resto!

As grandes cidades estão inviáveis. O infeliz perde 4 horas diárias da sua vida, durante 40 anos, indo e voltado do seu emprego (onde produz cabeças de alfinete), e acha isso normal. Não se consegue deslocar e nem respirar; a morte por atropelamentos é a terceira em quantidade no mundo; blocos de gelo com 8 vezes o tamanho de São Paulo se soltam da Antártida e, no fim do dia, assistindo ao Jornal Nacional ouvimos: “O Brasil já pode comemorar, a produção de carros está voltando a crescer e novos postos de trabalho foram criados. A crise vai passar.”! Vai passar!?! Que miopia é essa!?! Estamos no olho do furacão!! E achamos toda essa merda normal!! Isso é o que mata!!

Essa é uma lógica cíclica, idiotizante, que o Estado e o detentores do Capital, com anuência dos Sindicatos de trabalhadores que, dizem, proteger nosso direitos, criaram para se sustentarem. Pense comigo, Estado e Capital, na verdade, se legitimam administrando uma crise que eles próprios criaram. Quer exemplos? As sociedades indígenas clássicas, sem Estado, não conhecem o conceito de ‘fome’! Quem gera a violência do tráfico não são os usuários, mas a proibição do consumo veiculada pelos poderes públicos e privados! Nunca uma política de limpeza étnica poderia chegar ao grau de eficiência que muitas chegaram no século passado, e ainda nesse, sem o apoio de imensas máquinas estatais e bélicas que fragmentam e financiam todo o processo, e por aí vai.

Vivemos no mundo do trabalho alienado, sem finalidade fora de si, sem apego com as nossas vidas reais, sem um sentido realmente legítimo e justificável...produz-se, mais e mais e pra quê? Só pra eu ter a liberdade de escolha entre 15 marcas de sabão em pó na estante do supermercado!! Grande merda!! Ah, e claro, pra que possamos escolher o tarja preta mais forte de todas, a fim de nos mantermos dopados, já que é muito difícil encarar de cara limpa essa vida medíocre e insignificante que levamos: de bater ponto e viver em engarrafamentos.

Por mais que, lendo esse texto, continue me achando um otário, tenho certeza de que no íntimo você sente que o trabalho é uma praga. De que já imaginou a sua vida sem essa prisão...todos sentimos isso! O trabalho é tão desapegado dos nossos anseios, que é comum ouvir dizer que, quando o alarme toca às 6 da manhã, o corpo vai pro serviço, mas a alma fica em casa. É Marx que fala isso de forma convincente:
O trabalhador só se sente consigo mesmo fora do trabalho, enquanto que no trabalho se sente fora de si. (...) Seu trabalho, por isso, não é voluntário, mas constrangido, é trabalho forçado. Por isso, não é a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer necessidades exteriores a ele mesmo. A estranheza do trabalho revela sua forma pura no fato de que, desde que não exista nenhuma coerção física ou outra qualquer; foge-se dele como se fosse uma peste. (Marx, 1844)
Agora, em que se particulariza esse momento que vivemos? O ponto é que a sociedade do trabalho chegou ao seu extremo. Mesmo assim, só pensamos em sair da crise criando mais empregos! Nunca estivemos tão longe do pleno emprego, estamos sendo acostumados a viver vidas extremamente instáveis, medrosas e incertas. Não se consegue planejar a vida pra além de meses! Você tem que aceitar qualquer emprego, mesmo sendo o mais infundado e degradante, pois só é visto como ser humano se tem um “trabalho digno”.
Mesmo passando por esses perrengues, somos escrotos e burros a ponto de afirmar que quem não trabalha não merece comer nem viver – pois ninguém quer pagar bolsa família para ‘vagabundos’. Conforme está no ótimo Manifesto Contra o Trabalho, do Grupo Krisis: “O incômodo do ‘lixo humano’ fica sob a competência da polícia, das seitas religiosas de salvação, da máfia e dos sopões para pobres.”. Só porque alguém tem um emprego de merda, sente-se mais digno do que o resto. Nessa lógica, atiramos em nosso próprio pé, pois quem não trabalha é considerado supérfluo, refugo, falha do projeto, devendo ser tirado de circulação, colocado bem distante dos nosso olhos burgueses, deixados para fora das fronteiras, encarcerados em prisões ou albergues lotados e imundos do governo – não precisando de nada mais do que um investidor em ações acordar de mau humor pra que você perca seu lindo empreguinho. Sem contar o inferno que tem que suportar durante toda a vida pra manter essa aparências das coisas.

Mas a questão é que ninguém percebe que se deve lutar contra essa sociedade do trabalho: direitas e esquerdas, governo e oposição, sindicatos patronais e laboriais...todos querem injetar gás na máquina e gerar outro ciclo de expansão e crescimento das força produtivas. Quase tudo justifica a procura ou a criação de novos postos de trabalho, por mais ridículas, constrangedoras, socialmente inúteis e desprezíveis que estes possam ser...o que vale é estar ocupado e a manutenção da “roda da economia” funcionando.

Isso acabou! O meio ambiente está prestes a explodir, não há mais para onde os mercados expandirem e, para manter a roda do consumo, escraviza-se cada vez mais o trabalhador a fim de se conseguir produtos baratos. (Para você melhor entender essa crise, leia o tópico 11 do Manifesto Contra o Trabalho, disponível para download no fim do post).

Agora, não sejamos cínicos. A crítica à ideologia do trabalho deve se fundamentar numa perspectiva não só realista, mas também prática. Primeiro, não devemos esperar que as pessoas, amanhã, deixem de ir trabalhar. Todos estão presos a essa lógica, dependemos dos nossos empregos de bosta pra viver. Deixamos que as coisas chegassem a esse ponto, e desconstruir isso vai doer! Temos que refazer a economia sob outros princípios, voltados não para o atendimento dela mesma, mas sim das nossas necessidades materiais e espirituais reais. Por favor, posso ser um otário, mas não duas vezes...o fim do trabalho, como entendemos, não significa o fim da interação homem X natureza...isso é impossível! Sempre será preciso plantar, construir e o caralho...A questão é re-significar essa relação, acabando com o trabalho por si mesmo...alienado!

Abre-se aqui espaço para a discussão de novas estratégias, criemos formas embrionárias de emancipação social contra as forças sugadoras do Capital e do Estado (aquelas podem nascer como cooperativas autogestionárias de educação, moradia, saúde, alimentação etc., a própria pirataria, que tanto defendemos aqui no Blog do C.I.S.C.O., é uma nova forma de lidar com os produtos culturais).

As lutas defensivas dos trabalhadores, ainda internas ao sistema, não devem ser abandonadas, pois alienaríamos a própria crítica do trabalho das condições atuais dos trabalhadores. No entanto não devemos parar aí, mas conectá-las num movimento de recusa do trabalho também. Como poderia isso ser feito? Alguns falam em um reforço temporário do próprio Estado por meio de pressões mais profundas da sociedade civil, seria esse um caminho? Vamos discutir!

*-*-*

Aqui encerro a primeira parte desse post, pois já está ficando demasiado grande! Como você pode ver na seção “Quem Somos”, uma das prerrogativas básicas do C.I.S.C.O. é ir além da crítica pela crítica. Portanto, na segunda parte desse post, falarei de estratégias práticas, reais e atuais, que vêm sendo feitas nesse sentido de crítica ao trabalho.


Saúde e Anarquia!!

Grupo Krisis – Manifesto Contra o Trabalho

Grupo Krisis – Manifesto Contra o Trabalho em Mp3

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terça-feira, 28 de abril de 2009

As forças democráticas em ação permanente

















Na história não são raros os momentos em que democracia e fascismo – seja ele estabelecido enquanto sistema político vigente, seja pulverizado em políticas públicas e ou organizações da sociedade civil – caminharam de mãos dadas. Caso paradigmático do século XX é a ascensão de Hitler ao poder, que se deu por vias democráticas, facilitado por um estado alemão que não sabia o que fazer num contexto de polarização ideológica extrema e forte insatisfação da sociedade – optou-se pela ‘ordem’...o resultado todo mundo sabe. Não que uma ‘nova ordem’, preconizada pelo outro lado, os comunistas alemães fortemente apoiados pelos soviéticos, daria em coisa melhor – a única diferença seria só a cor da merda.

Exemplo atual do fascismo à conta gotas pode ser observado na atual política do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, em relação à população de rua e às políticas sociais e urbanas. O Rio de Janeiro de Eduardo Paes não fica atrás: desde o primeiro dia de governo foi implantado na capital o “Choque de Ordem”. Na verdade nada mais do que ações visando mostrar serviço para classe média, abrir espaço pra turma da especulação imobiliária, deixar a vista bonitinha para os turistas e enxotar camelôs, pedintes, mendigos e outras ‘porcarias’ do “““espaço público””” (Três aspas estão de bom tamanho?!!). Sem falar, ainda, dos muros em torno das favelas...essa foi de lascar!!! Tem que entrar para Top five dos muros da História: Muro de Berlim, Muro Israel/Palestina, Muros do Gueto de Varsóvia, Muro EUA/México e, agora, Muro da Rocinha...tem coisa mais autenticamente brasileira que essa? Muro da Rocinha!!!? Deveríamos até tombá-lo como patrimônio cultural do país, afinal de contas, representa muito de nós.

Novidades? Nenhuma na verdade. É questão social à maneira da boa e velha tradição brasileira, tratada como caso de polícia e, no máximo, por meio de políticas assistencialistas que negam a autonomia e a liberdade dos sujeitos sociais em todos os sentidos.

Agora, dado que o Blog do C.I.S.C.O. está acompanhado a questão da polêmica sobre a pirataria na web, não poderíamos deixar de falar sobre matéria da Folha de SP tratando da APCM (Associação Antipirataria de Cinema e Música) – a fina flor do fascismo virtual. Financiada pela turma aí de baixo (vide quadro abaixo), vem perseguindo e fazendo de tudo pra bloquear as redes e links de compartilhamento de arquivos na net. Por que fascistas?! Leia a matéria e veja quais os princípios norteadores da rapaziada...dentre as máximas elaboradas pelo presidente a Associação, Antonio Borges Filho (policial aposentado), temos essa: "As pessoas não têm essa conscientização de respeito às normas. Às vezes, é preciso a repressão para que a coletividade entenda que tem de respeitar” (a ‘ordem’ novamente!). Junto disso, não devemos deixar de lado o também projeto fascista do Senador Azeredo que, se aprovado, poderia impulsionar em muito o trabalho da APCM.

No entanto, por enquanto apenas virtualmente, temos razão pra festejar. Apesar de o número de links bloqueados pela APCM vir aumentado bastante ano após ano (235% entre 2007 e 2008), a quantidade de blogs, sites, programas, .torrent e o caralho-a-quatro que estão surgindo vão muito, mas muito, além disso. Na web ainda respiramos autonomia, liberdade e acesso aos bens culturais. Como isso é possível? Simples...em função do caráter caótico do mundo virtual. No entanto, não podemos parar aqui, faça a sua parte, exerça sua autonomia! Mande a ‘ordem’ pro inferno.



Saúde e Anarquia pra todos!

Comunidade Anti-APCM no Orkut

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domingo, 26 de abril de 2009

Ainda sobre antropocentrismo ou especismo...


Não há vivissecção justificável.

É interessante perceber alguns mecanismos de construção de discurso que estão por trás da justificativa de práticas absurdas.

Uma técnica muito comum se baseia na associação entre algo amplamente aceito socialmente com uma prática eticamente condenável.

É mais ou menos assim que o absurdo passa despercebido.

Vemos isso, por exemplo, quando a UNESCO cria o Dia do Livro e do Direito do Autor (o Copyright). Poxa, quem não aplaudiria a iniciativa da criação do Dia do Livro? Algo louvável... mas, daí a fazer com tenhamos que engolir goela abaixo do Direito do Autor... já é outra coisa. É mais ou menos como se a UNESCO afirmasse que o livro só é possível com copyright... que sem isso eles não seriam escritos.

Ou seja, junta-se algo indiscutível, o valor do livro para a sociedade, com algo altamente questionável, o direito do autor (e das editoras, o que fica subentendido), o que representa um dos principais obstáculos à democratização da leitura e do conhecimento.

O mesmo se vê no caso da Lei do Senador Eduardo Azeredo, que na onda de alguns abusos de usuários de internet, principalmente pedófilos e ladrões virtuais, tenta fazer passar uma série de medidas restritivas da liberdade a título de garantia de segurança na rede mundial de computadores.

Com relação ao discurso sobre a vivissecção se dá o mesmo. Sob o pressuposto de que ela é fundamental para a descoberta de curas de doenças e de novos medicamentos, um uso indiscriminado das vidas animais é justificado.

Esse discurso aparentemente óbvio é permeado de inúmeros absurdos.


Primeiramente, o uso das vidas animais é completamente desregulado. Incontáveis cobaias são utilizadas para os motivos mais banais possíveis. Seu uso nas universidades é indiscriminado e vem gerando reação dos alunos, que inclusive se recusam a participar das vivissecções. Para isso já existe até mesmo um modelo de carta de objeção de consciência disponível no site do InterNICHE Brasil.

Além disso, quando falamos de indústria farmacêutica temos que ter em conta que boa parte do que se produz com a utilização de cobaias animais tem função social – levando-se em conta os altos custos representados pelo uso de incontáveis vidas – altamente questionável.

Quantos animais são utilizados para que se produzam cosméticos ou medicamentos que já possuem similar no mercado?

Quem analisa a atuação da indústria farmacêutica percebe que a preocupação social, com a produção de medicamentos a baixos custos, destinados a cura de doenças que atingem as populações mais pobres do globo não é sua prioridade.

Ou seja, quando se fala em vivissecção social e moralmente justificável, essa discussão é cabível em apenas uma minoria absoluta de casos. Ainda assim, penso que outras alternativas devem ser buscadas.

O que se vê da parte da comunidade científica é uma grande inércia nesse sentido. Sempre se utilizando da justificativa de que a ciência é neutra e sempre busca o bem da humanidade, inúmeros pesquisadores se eximem de responsabilidade quando se fala do uso das vidas animais.

É hora de a comunidade científica pular o muro – pois essa nunca estive em cima do muro e a maioria já escolheu o seu lado há muito tempo – e passar a buscar alternativas para o uso das vidas animais que se torna cada vez menos justificável.

Para saber mais sobre os direitos animais acesse: Gato Negro

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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Antropocentrismo ou especismo?


Quando ele se interessou por aquela matéria morta foi um momento grandioso. O corpo inerte sobre a mesa fria – com seus lábios cinzentos, seus músculos retesos e o odor cadavérico espalhado pelo ambiente – ao invés de lhe despertar um sentimento de comoção ou mesmo o asco, simplesmente o convenceu ainda mais a realizar seu intento. Avidamente, e com a mão um pouco trêmula, ele pegou a lâmina e com um corte longitudinal rasgou o ventre do defunto.

Iniciava-se uma dissecação, com aquele ato revolucionário as almas eram expulsas dos corpos humanos, tendo que se refugiar na imaginação e nas superstições dos obscurantistas. Entender o corpo humano como um fenômeno da natureza, sujeito às demais leis que regem o universo, representou um avanço na compreensão do mundo. O compromisso do homem com o logos e a vontade de escarafunchar cada segmento do real trouxe a ciência moderna, supostamente comprometida com o bem viver, plenamente otimista com a intervenção antrópica no ambiente.

Não mais as explicações religiosas, caberia agora um estudo sistemático, o nascimento da anatomia e de uma fisiologia mais abalizada. As forças da reação (sobretudo aquelas que seguiam o homem do chapéu pontudo) sentiram-se incomodadas com essa formidável ousadia, mas ao final se resignaram com tal heresia racionalista.

Passado tantos séculos depois somos obrigados, e não com pouco receio de se alinhar (mesmo que involuntariamente) aos reaças, a questionar algumas dessas ousadias científicas. Longe de querer tomar um posicionamento definitivo, vale deixar uma indagação, na verdade mais um incômodo com algumas práticas dessa ciência moderna.

No plano ético, há poucos embargos para a dissecação, ela já se consolidou nos cursos de ciências biológicas e a própria autópsia é sua derivada direta. Mas e quanto à vivissecção, isto é, o ato de dissecar um animal vivo, geralmente infligindo a dor ou um dano irreversível, trata-se de algo moralmente aceitável?

O argumento corrente defende a vivissecção como um exercício fundamental para a compreensão da fisiologia e do funcionamento dos órgãos (o metabolismo) enquanto vivos. Seria fundamental para o teste de procedimentos cirúrgicos e dos efeitos de remédios e drogas variadas, o que em última instância traria uma melhor qualidade de vida para o homem.

Há um risco muito grande de incorremos em um especismo, acreditando que os demais seres vivos podem e devem sofrer em benefícios do ser humano. Assim, o paradigma antropocêntrico seria a camuflagem de nossa arrogância e desrespeito pelo bioma. Conhecemos os efeitos da ação antrópica na natureza, a sanha racionalista trouxe uma conduta insana, na qual o homem se sente no direito de destruir as próprias condições que o permitem viver.

A vivissecção é o ponto extremo: crânios de cachorros abertos, enquanto salivam assustados e esgotados. Macacos presos em uma fria mesa metálica, com algumas dezenas de agulhas perfurando pontos sensíveis. Tudo em nome da ciência. Da ciência e do lucro das empresas cosméticas e farmacêuticas, as principais defensoras da vivissecção, auxiliadas teórica e ideologicamente por arrogantes catedráticos (os bruxos da história natural) moralmente aptos a infligir dor nas demais formas de vida que não levem em seu material genético os 46 cromossomos.

Portanto, é muito fácil criticar a vivissecção e descartá-la como uma metodologia científica legítima, mas quando olhamos à direita vemos que aqueles que lá estão nos aplaudem quando tomamos tal posição. Cabe, portanto, cautela, pois nossas bandeiras nunca serão as mesmas e se elas coincidem não é um bom presságio. Ao renegarmos essa prática podemos novamente conferir aos seres vivos uma áurea espiritual, com uma idealização da natureza, tratando-a até como uma divindade. Não sou um eco-fascista, não quero me arvorar à posição de defensor das samambaias ou dos ratos brancos, ainda tenho no logos.

Os seres vivos experimentam uma constante rotina de crueldade, será que a vivissecção é mais imoral do que a teia da aranha? Sei que aqui a argumentação se torna boba, pois o homem em sua racionalidade trouxe para si a ética, mas então retomo a provocação questionando se podemos estender o universo ético aos seres não racionais. Talvez o conceito de dor seja muito subjetivo e humano para ser aplicado a outras espécies, mas tal idéia também se revela frágil e cínica.

Será que todo conhecimento é válido? Será que o saber que brota da dor e do sofrimento de outros animais é legítimo e deve ser aceito? Responder não a essas duas perguntas traz uma série de implicações, que os vegetarianos bem sabem...

Talvez uma nova sensibilidade esteja em formação nesse exato momento, menos pretensiosa; parceira do ecossistema e disposta a conciliar a curiosidade humana com o respeito pela vida. Mas que essa nova humildade não represente o retrocesso e o fanatismo que imperou em épocas passadas, quando o único material para se extrair a verdade era um livro com páginas amareladas e idéias um tanto indigestas, que fazia da história natural algo tão edificante quanto a fábula da Arca de Noé.

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Mais uma vitória!



Desculpe-me pelo post com tema repetido, mas é impossível não ficar eufórico com os últimos ocorridos do caso Pirate Bay.


Processados por grandes gravadoras e condenados pela justiça sueca por "facilitação de compartilhamento ilegal de arquivos", os caras do site recorreram, o que vai emperrar o andamento do processo por mais dois ou três anos. Ainda por cima pediram que a mobiliozação pra arrecadar 3,6 milhões (pois além de condenados ao xadrez, teriam que pagar multa nesse valor) pare, pois afirmaram categoricamente que não irão pagar um centavo.

Mais fabulosa ainda foi a mensagem deixada pra turma toda:

"Deixe seus torrents no modo “seed” por mais tempo que você costumava deixar, compre uma camiseta do site e mostre ao mundo de quem você gosta, continue a construir uma sociedade livre.
Crie novo sites torrent, blogue mais, crie mais e compartilhe. Faça surgir cada vez mais cabeças nesta Hydra que chamamos de internet.
E não tenha medo de usar a rede! Convide seus amigos para o Pirate Bay e outros sites de compartilhamento. Acalme as pessoas que estão preocupadas! Precisamos nos unir agora!
E fale alto e com orgulho: Todos nós somos o The Pirate Bay!"


Fonte: Supercool news, The Pirate Bay Blog

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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Dia de comemorar!!

Dia 23 é o Dia do Livro e dos Direitos do Autor

Parabéns!! Amanhã é dia de chutar mais paradigmas estabelecidos pra escanteio, pois no dia 23 de abril comemora-se o dia Mundial do Livro e...dos Direitos do “autor”. Agora me digam, quantos escritores você conhece que vivem dos livros vendidos? Tirando Paulo Coelho que, inclusive, não tem o menor problema com a perspectiva Copyleft (ele próprio disponibiliza seus livros na internet), a lógica que permeia a venda de livros, sobretudo no Brasil, é a de que as editoras (o Brasil possui um dos mercados editoriais mais caros do mundo – isso num país com milhões de analfabetos funcionais!!) ficam com tudo e os autores e os proponentes pobres a leitores com nada.

Instituições como a CBL (Câmara Brasileira do Lucro...ops...Livro), ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos) entre outras porcarias emitem máximas dignas de nota: “O respeito ao direito autoral é fundamental para ampliar a cultura, a educação e a circulação do conhecimento de um país.” – queria entender esse raciocínio, mas minha capacidade intelectual é reduzida demais pra isso. Já a CBL insiste em dizer que consiste em “...uma entidade independente, sem fins lucrativos, com a missão de estimular a leitura no País, promover a indústria e o comércio do livro e defender os interesses de seus associados.”.

Mas por baixo dos blá, blá, blás midiáticos e jurídicos, aferram-se cada vez mais em defesa dos direitos de lucrar em cima do trabalho dos verdadeiros autores e do não acesso de grande parte da população à leitura. Quer provas? Veja aqui o combate contra as cópias xerográficas apertando o cerco, e aqui o esforço pelo fim do download de obras na net. E tudo em nome da Democracia hein!!

Aqui há uma interessante matéria sobre a questão, realizada pela Revista Carta Capital em janeiro de 2005, onde fica mais uma vez bem clara que a postura da CBL é a mesma das grandes da indústria fonográfica: coibir a “pirataria”...apesar de eu preferir chamar isso, dentro das minhas reduzidas capacidades mentais, de democratização. Resultado? Estão tomando uma verdadeira surra, é impressionante o volume de material, livros, periódicos, jornais, revistas e o escambal disponibilizados na rede todos os dias. Definitivamente, tal como as gravadoras, as editoras não têm mais razão de existência, agora autores e usuários podem fazer todo o trabalho de forma autônoma via net. Além disso vê-se, também, o surgimento de cooperativas como a Faísca, que editam e vendem livros a preços decentes e sob outras prerrogativas ideológicas e práticas, digamos, mais humanas.

A crise pela qual passa o jornalismo tradicional/impresso hoje, crise de legitimidade, de sustentabilidade financeira etc., está, também, muito ligada a essa questão que aqui discuto e pretendo abordar mais detidamente em outra ocasião. Por enquanto, fique com essa ótima discussão do site do Pedro Doria.

Por fim, aí vão alguns poucos links, dos centenas de locais na web, pra você baixar livros e comemorar, de verdade, o Dia do Livro e dos Direitos do Autor!! Dentro deles você pode fazer contato com o pessoal e encontrar mais links pra outros sítios – as possibilidades são infinitas!! É o caos do mundo virtual, na sua íntima relação com o mundo real, que me deixa feliz!!

Destruindo Construiremos!! Viva a Pirataria!!

Ebookcult

Portaldetonando
Viciados em livros
E-revistas
Kotonette

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terça-feira, 21 de abril de 2009

A bruxa está a solta!!

Foi com essa afirmação que um dos sites de compartilhamento de mp3 mais conhecidos da net se referiu a atual onda de perseguição mundial que os defensores dos tradicionais direitos autorais estão promovendo pela web. Na semana passada, os responsáveis pelo maior site de compartilhamento de arquivos do mundo, o Pirate Bay, com cerca de 25 milhões de usuários, foram condenados pela justiça sueca a um ano de prisão e a pagar milhões em indenizações para figurões da indústria fonográfica: Warner Bros, Sony, EMI e Columbia Pictures – no entanto, ainda cabe recurso por parte dos sentenciados.

De qualquer forma, uma coisa é fato, a bruxa está solta sim, mas seus dias de liberdade estão contados. Vinte dias após o seu encerramento, o cdscompletos já estava de volta no ar, firme e forte. Pelo lado do Pirate Bay, um dos responsáveis afirmou: “Fiquem calmos – nada vai aconteceu ao The Pirate Bay, a nós pessoalmente ou ao compartilhamento de arquivos tampouco. Isso só é um teatro para a mídia”. A questão é simples: o formato como conhecemos os diretos autorais está em processo de extinção...e mais, as gravadoras perderam sua razão de existência, e isso é cada vez mais forte com a expansão do acesso a internet, que elimina a tradicional separação produtor X consumidor. Como era justamente esse o espaço por onde as gravadoras nos sufocavam, agora nada mais resta a não ser ‘irem todas pro inferno’. Por tudo isso, estão tão desesperadas.


O interessante é que o endosso ao argumento de que as grandes gravadoras não têm mais razão de existência é cada vez mais difundido, atingindo, inclusive, os chamados grandes artistas. A indústria fonográfica argumenta que o artista perde com a pirataria, o que é uma grande mentira, pois quem trabalha na área sabe que a maior parte da renda vem dos shows, de modo que a melhor forma de alguém conhecer seu trabalho, hoje, é por meio da maior difusão possível de suas músicas na rede. Em outras palavras, as gravadoras nada mais fazem do que emperrar a promoção de um artista.

O caráter extremamente caótico e ingovernável da rede virtual torna praticamente impossível a eliminação do compartilhamento de arquivos e tudo mais o que se imagine – e o interessante é que os artistas estão cada vez mais simpáticos a isso. Para além da Internet, vemos também numerosas iniciativas que rompem com os já carcomidos monopólios das grandes gravadoras sobre a cultura: bons exemplos são os casos da Trama Virtual, e das cooperativas de bandas que estão surgindo por aí.

Por fim, vale lembrar que não só de música vive a cultura, de modo que grandes produtoras de cinema, editoras etc. estão todas com os seus dias contados. Pululam na net milhares de sites que disponibilizam livros e filmes, pirateados ou não, a custo zero. E o Blog do C.I.S.C.O. vai procurar sempre disponibilizar links e dicas para vocês caros leitores. Como já dizia o saudoso Coletivo SABOTAGEM: “Conhecimento não se compra, se toma”!!

Mais sobre a questão do Movimento Copyleft aqui.

Saúde e Anarquia pra todos!!


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domingo, 19 de abril de 2009

Para que serve a propriedade?

9 de abril de 2009. Mais um capítulo da busca por soluções para problema mundial da falta de moradia. O palco dessa vez é Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Nesse dia iniciou-se a Ocupação Dandara, uma ação popular que conta com o apoio das Brigadas Populares, do MST e do Fórum de Moradia do Barreiro. Ali, famílias procuram aproveitar uma propriedade abandonada por mais de quarenta anos, que vinha representando um transtorno para os moradores da região, devido à ausência de qualquer manutenção; e, ao mesmo tempo, proporcionar uma habitação e um espaço para a produção de gêneros agrícolas para inúmeros despossuídos.

A efetiva ocupação dessa área significará ganhos para diversos grupos, desde as famílias assentadas, que terão moradia e uma opção de produção, passando pelos vizinhos do terreno, que não mais terão de conviver com um lote baldio sinônimo de problemas, até outros sem-teto e sem-terra, que poderão, a partir dessa experiência, alcançar mais reconhecimento social para a importância de ações dessa natureza.

Contudo, o assentamento definitivo das famílias esbarra em um obstáculo, a posse daquela terra por outra pessoa e o reconhecimento por diversas esferas do poder público dessa condição. Ou seja, apesar do sabido abandono do lugar, por um lado, e da necessidade de diversas famílias da conquista de um espaço para morar e produzir, por outro, tanto o terreno como os ocupantes podem voltar à sua antiga situação devido a uma convenção social e legal denominada propriedade.

Mas será que é legítima a constituição desse cenário absurdo? Afinal de contas, para que serve a propriedade?


Esse debate é antigo... mas não tão antigo que possa ser pensado como de tempos imemoriais. A criação da idéia de propriedade tal como conhecemos é muito bem delimitada e remonta ao advento do sistema capitalista. Isso não significa que antes não havia a idéia da posse, que as pessoas não tinham suas casas ou suas terras, mas a forma como elas se relacionavam com elas eram diversa.

Ao contrário do que muitos possam acreditar hoje, a constituição da propriedade privada não foi algo visto como natural pelos homens da época. A muitos, por exemplo, parecia estranha a idéia de que uma floresta que até então era área comum, de onde se retiravam recursos, passasse a ser propriedade de alguém e se tornasse interditada aos demais. Foi apenas a base de uma rígida legislação que chegava até mesmo a condenar a morte alguém que recolhesse alguns feixes de lenha que se constituiu, na Inglaterra, a idéia de que os bosques tinham donos.

Ainda hoje parece absurdo imaginar que alguma porção de terra seja propriedade de alguém que passa anos sem ao menos visitar o lugar, sem ao menos realizar ali uma capina ou qualquer cultivo. Qual o sentido de se interditar uma área à ocupação ou à utilização de outro? Em muitos casos, tal espaço preserva densa vegetação, ou possui algum curso d’água, ou mesmo representa uma área de lazer para os habitantes locais... mas e quando nada disso acontece? Qual a justificativa social para que um espaço seja inacessível, especialmente quando há uma reconhecida necessidade por habitação e espaço para produção, especialmente a de subsistência.

Bom, a resposta padrão para tal pergunta é “o direito de propriedade”... algo que soa estranho... como tal direito pode se sobrepor a outros? Ao “direito à habitação digna”, ao “direito à sobrevivência”... ao que parece o que é moralmente correto nem sempre é o que é legalmente aceito... deve ter sido por essas e outras que alguém disse um dia “A propriedade é um roubo!”.


PS: No dia 20 de abril, a Ocupação Dandara conseguiu uma importante vitória com a suspensão da reintegração de posse. O que mostra que, ainda que minimamente, o absurdo da especulação imobiliária vem alcançando reconhecimento social.

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Postagem n. 0

Este blog surgiu da necessidade de integrantes do C.I.S.C.O. retomarem algumas discussões iniciadas há anos atrás, quando o grupo realizava reuniões de estudo e debate regulares. Nosso tema de interesse centrou-se especialmente na crítica da organização social atual, a partir da leitura de textos e contextos da tradição libertária - no seu sentido mais amplo -, e é essa questão que pretendemos abordar em nossas postagens futuras.

Como sugere o próprio título do blog, não temos a intenção de ser um espaço de notícias regulares, mas sim um mural de discussão de temas contemporâneos, os mais variados, que apontem os limites e as contradições da organização social em que vivemos. A intenção é trazer um discurso que desconstrua a visão de mundo em que hoje vivemos, considerando que uma certa visão de que a História teria chegado ao seu fim é um dos maiores empecilhos para transformações e mudanças que, cada vez mais, vêm se mostrando tão necessárias.

Buscaremos não apenas levantar polêmicas e, dentro das possibilidades, procuraremos apontar alternativas viáveis que vêm sendo postas em prática em diferentes partes do mundo. Pensamos que isso é fundamental para se desnaturalizar algumas visões de que há apenas uma ordem possível.

Apesar de todas as nossas afinidades, não esperem um discurso consonante nesse espaço. Entendemos ser a diferença de idéias e práticas elemento enriquecedor do debate e, por isso, perceberão que posições divergentes serão defendidas aqui. Sendo assim, pensamos que a participação dos leitores nas discussões também é fundamental e é uma das razões de ser da criação desse blog que lançamos na rede virtual.

Saúde e Anarquia pra todos!!

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