domingo, 26 de abril de 2009

Ainda sobre antropocentrismo ou especismo...


Não há vivissecção justificável.

É interessante perceber alguns mecanismos de construção de discurso que estão por trás da justificativa de práticas absurdas.

Uma técnica muito comum se baseia na associação entre algo amplamente aceito socialmente com uma prática eticamente condenável.

É mais ou menos assim que o absurdo passa despercebido.

Vemos isso, por exemplo, quando a UNESCO cria o Dia do Livro e do Direito do Autor (o Copyright). Poxa, quem não aplaudiria a iniciativa da criação do Dia do Livro? Algo louvável... mas, daí a fazer com tenhamos que engolir goela abaixo do Direito do Autor... já é outra coisa. É mais ou menos como se a UNESCO afirmasse que o livro só é possível com copyright... que sem isso eles não seriam escritos.

Ou seja, junta-se algo indiscutível, o valor do livro para a sociedade, com algo altamente questionável, o direito do autor (e das editoras, o que fica subentendido), o que representa um dos principais obstáculos à democratização da leitura e do conhecimento.

O mesmo se vê no caso da Lei do Senador Eduardo Azeredo, que na onda de alguns abusos de usuários de internet, principalmente pedófilos e ladrões virtuais, tenta fazer passar uma série de medidas restritivas da liberdade a título de garantia de segurança na rede mundial de computadores.

Com relação ao discurso sobre a vivissecção se dá o mesmo. Sob o pressuposto de que ela é fundamental para a descoberta de curas de doenças e de novos medicamentos, um uso indiscriminado das vidas animais é justificado.

Esse discurso aparentemente óbvio é permeado de inúmeros absurdos.


Primeiramente, o uso das vidas animais é completamente desregulado. Incontáveis cobaias são utilizadas para os motivos mais banais possíveis. Seu uso nas universidades é indiscriminado e vem gerando reação dos alunos, que inclusive se recusam a participar das vivissecções. Para isso já existe até mesmo um modelo de carta de objeção de consciência disponível no site do InterNICHE Brasil.

Além disso, quando falamos de indústria farmacêutica temos que ter em conta que boa parte do que se produz com a utilização de cobaias animais tem função social – levando-se em conta os altos custos representados pelo uso de incontáveis vidas – altamente questionável.

Quantos animais são utilizados para que se produzam cosméticos ou medicamentos que já possuem similar no mercado?

Quem analisa a atuação da indústria farmacêutica percebe que a preocupação social, com a produção de medicamentos a baixos custos, destinados a cura de doenças que atingem as populações mais pobres do globo não é sua prioridade.

Ou seja, quando se fala em vivissecção social e moralmente justificável, essa discussão é cabível em apenas uma minoria absoluta de casos. Ainda assim, penso que outras alternativas devem ser buscadas.

O que se vê da parte da comunidade científica é uma grande inércia nesse sentido. Sempre se utilizando da justificativa de que a ciência é neutra e sempre busca o bem da humanidade, inúmeros pesquisadores se eximem de responsabilidade quando se fala do uso das vidas animais.

É hora de a comunidade científica pular o muro – pois essa nunca estive em cima do muro e a maioria já escolheu o seu lado há muito tempo – e passar a buscar alternativas para o uso das vidas animais que se torna cada vez menos justificável.

Para saber mais sobre os direitos animais acesse: Gato Negro

3 comentários:

  1. Não que eu descorde. Acredito, no entanto, que a proibição da vivissecação traz como consequëncia (ou melhor dizendo, abre um precedente) para uma série de questionamentos ao uso dos animais pelos homens.
    É legítimo comê-los? É legítimo usar suas forças musculares? É legítmo utilizar a pele, as penas e os seus pelos como indumentárias? E por aí vai.

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  2. Rolou uma marcha contra a vivisecção por aí..acho que em Santiago..tão sabendo?

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