quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ele não tem tempo para o anarquismo



Ele já acorda se sentindo atrasado. Uma ânsia profunda e certa dificuldade de respirar são sensações que o acompanharão durante o dia inteiro. Debaixo do chuveiro sua sonolência é despertada pelos pequenos tuchos de cabelos que saem de sua cabeça, peito e costas. O café matinal tem gosto de fel, mas ao menos serve para prepará-lo para a pior parte do dia.

A saída da garagem traz um momento de tensão, a qualquer instante um preto encapuzado pode bater no vidro do carro com o cano do revólver e mandá-lo descer, felizmente não foi dessa vez, Ele tem uma pequena vitória e quase esboçaria um sorriso se não soubesse o que vem logo adiante. Ele se vê flutuando em um caudaloso rio de automóveis, pequenos cárceres que se movem sobre quatro rodas. Cada metro da rua é disputado com agressividade similar a de soldados se batendo por uma trincheira em Verdum. A morosidade e as pequenas injúrias trocadas nessas vias, terras de ninguém, consomem as baixas possibilidades d’Ele se sentir bem humorado.

Estacionar sua cela luxuosa é outro desafio, perde-se alguns minutos, mas enfim Ele emerge para o exterior, já aquecido para a verdadeira batalha. Sua face respinga suor, a gravata não está alinhada, de qualquer forma Ele sai com sua maleta bem segura, enquanto a mão esquerda bate a porta do veículo e aciona a trave eletrônica. Antes mesmo de entrar no prédio envidraçado (uma suntuosa prisão de cristal) seu celular começa a gritar, realmente, novamente, consequentemente está atrasado, uma reunião sobre metas inatingíveis a serem atingidas o espera.

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O Trabalho Liberta! Será mesmo? (parte 01)


Trabalho e Consumo. São os dois nós que detonam a possibilidade de uma sociedade mais justa, autônoma e sustentável. E nesse fatídico 1º de maio, em que a sociedade do trabalho se vê numa de suas piores crises, pretendo fazer um exercício de desconstrução desse que consiste no maior e mais bem enraizado absurdo tido como óbvio: o Trabalho (em outra ocasião discutirei a questão do consumo).

“Mas como assim? Como poderia o trabalho ser um empecilho à uma sociedade virtuosa? Ele é o nosso próprio ser! O que seria de mim sem o trabalho? É o centro de referências da minha identidade! É o que me mantém! É o único caminho possível para a felicidade!”

Nos primeiros contatos com textos que fazem uma crítica radical ao trabalho, não compreendi bem qual era ponto. Parecia coisa de vagabundos que queriam ficar à toa o dia todo, ou de intelectuais de gabinete que ganhavam 10.000 e ficavam pensando em merdas ao invés de fazerem algo que prestasse. Mero engano...a pretensa ‘indispensabilidade do trabalho’ é algo tão assentado em nossas vidas, tão intocado no mais profundo de nosso ser, que a primeira sensação de crítica a ela surge como um sacrilégio. Mas pensemos com mais calma...




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terça-feira, 28 de abril de 2009

As forças democráticas em ação permanente

















Na história não são raros os momentos em que democracia e fascismo – seja ele estabelecido enquanto sistema político vigente, seja pulverizado em políticas públicas e ou organizações da sociedade civil – caminharam de mãos dadas. Caso paradigmático do século XX é a ascensão de Hitler ao poder, que se deu por vias democráticas, facilitado por um estado alemão que não sabia o que fazer num contexto de polarização ideológica extrema e forte insatisfação da sociedade – optou-se pela ‘ordem’...o resultado todo mundo sabe. Não que uma ‘nova ordem’, preconizada pelo outro lado, os comunistas alemães fortemente apoiados pelos soviéticos, daria em coisa melhor – a única diferença seria só a cor da merda.

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domingo, 26 de abril de 2009

Ainda sobre antropocentrismo ou especismo...


Não há vivissecção justificável.

É interessante perceber alguns mecanismos de construção de discurso que estão por trás da justificativa de práticas absurdas.

Uma técnica muito comum se baseia na associação entre algo amplamente aceito socialmente com uma prática eticamente condenável.

É mais ou menos assim que o absurdo passa despercebido.

Vemos isso, por exemplo, quando a UNESCO cria o Dia do Livro e do Direito do Autor (o Copyright). Poxa, quem não aplaudiria a iniciativa da criação do Dia do Livro? Algo louvável... mas, daí a fazer com tenhamos que engolir goela abaixo do Direito do Autor... já é outra coisa. É mais ou menos como se a UNESCO afirmasse que o livro só é possível com copyright... que sem isso eles não seriam escritos.

Ou seja, junta-se algo indiscutível, o valor do livro para a sociedade, com algo altamente questionável, o direito do autor (e das editoras, o que fica subentendido), o que representa um dos principais obstáculos à democratização da leitura e do conhecimento.

O mesmo se vê no caso da Lei do Senador Eduardo Azeredo, que na onda de alguns abusos de usuários de internet, principalmente pedófilos e ladrões virtuais, tenta fazer passar uma série de medidas restritivas da liberdade a título de garantia de segurança na rede mundial de computadores.

Com relação ao discurso sobre a vivissecção se dá o mesmo. Sob o pressuposto de que ela é fundamental para a descoberta de curas de doenças e de novos medicamentos, um uso indiscriminado das vidas animais é justificado.

Esse discurso aparentemente óbvio é permeado de inúmeros absurdos.

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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Antropocentrismo ou especismo?


Quando ele se interessou por aquela matéria morta foi um momento grandioso. O corpo inerte sobre a mesa fria – com seus lábios cinzentos, seus músculos retesos e o odor cadavérico espalhado pelo ambiente – ao invés de lhe despertar um sentimento de comoção ou mesmo o asco, simplesmente o convenceu ainda mais a realizar seu intento. Avidamente, e com a mão um pouco trêmula, ele pegou a lâmina e com um corte longitudinal rasgou o ventre do defunto.

Iniciava-se uma dissecação, com aquele ato revolucionário as almas eram expulsas dos corpos humanos, tendo que se refugiar na imaginação e nas superstições dos obscurantistas. Entender o corpo humano como um fenômeno da natureza, sujeito às demais leis que regem o universo, representou um avanço na compreensão do mundo. O compromisso do homem com o logos e a vontade de escarafunchar cada segmento do real trouxe a ciência moderna, supostamente comprometida com o bem viver, plenamente otimista com a intervenção antrópica no ambiente.

Não mais as explicações religiosas, caberia agora um estudo sistemático, o nascimento da anatomia e de uma fisiologia mais abalizada. As forças da reação (sobretudo aquelas que seguiam o homem do chapéu pontudo) sentiram-se incomodadas com essa formidável ousadia, mas ao final se resignaram com tal heresia racionalista.

Passado tantos séculos depois somos obrigados, e não com pouco receio de se alinhar (mesmo que involuntariamente) aos reaças, a questionar algumas dessas ousadias científicas. Longe de querer tomar um posicionamento definitivo, vale deixar uma indagação, na verdade mais um incômodo com algumas práticas dessa ciência moderna.

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Mais uma vitória!



Desculpe-me pelo post com tema repetido, mas é impossível não ficar eufórico com os últimos ocorridos do caso Pirate Bay.

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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Dia de comemorar!!

Dia 23 é o Dia do Livro e dos Direitos do Autor

Parabéns!! Amanhã é dia de chutar mais paradigmas estabelecidos pra escanteio, pois no dia 23 de abril comemora-se o dia Mundial do Livro e...dos Direitos do “autor”. Agora me digam, quantos escritores você conhece que vivem dos livros vendidos? Tirando Paulo Coelho que, inclusive, não tem o menor problema com a perspectiva Copyleft (ele próprio disponibiliza seus livros na internet), a lógica que permeia a venda de livros, sobretudo no Brasil, é a de que as editoras (o Brasil possui um dos mercados editoriais mais caros do mundo – isso num país com milhões de analfabetos funcionais!!) ficam com tudo e os autores e os proponentes pobres a leitores com nada.

Instituições como a CBL (Câmara Brasileira do Lucro...ops...Livro), ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos) entre outras porcarias emitem máximas dignas de nota: “O respeito ao direito autoral é fundamental para ampliar a cultura, a educação e a circulação do conhecimento de um país.” – queria entender esse raciocínio, mas minha capacidade intelectual é reduzida demais pra isso. Já a CBL insiste em dizer que consiste em “...uma entidade independente, sem fins lucrativos, com a missão de estimular a leitura no País, promover a indústria e o comércio do livro e defender os interesses de seus associados.”.

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terça-feira, 21 de abril de 2009

A bruxa está a solta!!

Foi com essa afirmação que um dos sites de compartilhamento de mp3 mais conhecidos da net se referiu a atual onda de perseguição mundial que os defensores dos tradicionais direitos autorais estão promovendo pela web. Na semana passada, os responsáveis pelo maior site de compartilhamento de arquivos do mundo, o Pirate Bay, com cerca de 25 milhões de usuários, foram condenados pela justiça sueca a um ano de prisão e a pagar milhões em indenizações para figurões da indústria fonográfica: Warner Bros, Sony, EMI e Columbia Pictures – no entanto, ainda cabe recurso por parte dos sentenciados.

De qualquer forma, uma coisa é fato, a bruxa está solta sim, mas seus dias de liberdade estão contados. Vinte dias após o seu encerramento, o cdscompletos já estava de volta no ar, firme e forte. Pelo lado do Pirate Bay, um dos responsáveis afirmou: “Fiquem calmos – nada vai aconteceu ao The Pirate Bay, a nós pessoalmente ou ao compartilhamento de arquivos tampouco. Isso só é um teatro para a mídia”. A questão é simples: o formato como conhecemos os diretos autorais está em processo de extinção...e mais, as gravadoras perderam sua razão de existência, e isso é cada vez mais forte com a expansão do acesso a internet, que elimina a tradicional separação produtor X consumidor. Como era justamente esse o espaço por onde as gravadoras nos sufocavam, agora nada mais resta a não ser ‘irem todas pro inferno’. Por tudo isso, estão tão desesperadas.

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domingo, 19 de abril de 2009

Para que serve a propriedade?

9 de abril de 2009. Mais um capítulo da busca por soluções para problema mundial da falta de moradia. O palco dessa vez é Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Nesse dia iniciou-se a Ocupação Dandara, uma ação popular que conta com o apoio das Brigadas Populares, do MST e do Fórum de Moradia do Barreiro. Ali, famílias procuram aproveitar uma propriedade abandonada por mais de quarenta anos, que vinha representando um transtorno para os moradores da região, devido à ausência de qualquer manutenção; e, ao mesmo tempo, proporcionar uma habitação e um espaço para a produção de gêneros agrícolas para inúmeros despossuídos.

A efetiva ocupação dessa área significará ganhos para diversos grupos, desde as famílias assentadas, que terão moradia e uma opção de produção, passando pelos vizinhos do terreno, que não mais terão de conviver com um lote baldio sinônimo de problemas, até outros sem-teto e sem-terra, que poderão, a partir dessa experiência, alcançar mais reconhecimento social para a importância de ações dessa natureza.

Contudo, o assentamento definitivo das famílias esbarra em um obstáculo, a posse daquela terra por outra pessoa e o reconhecimento por diversas esferas do poder público dessa condição. Ou seja, apesar do sabido abandono do lugar, por um lado, e da necessidade de diversas famílias da conquista de um espaço para morar e produzir, por outro, tanto o terreno como os ocupantes podem voltar à sua antiga situação devido a uma convenção social e legal denominada propriedade.

Mas será que é legítima a constituição desse cenário absurdo? Afinal de contas, para que serve a propriedade?

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Postagem n. 0

Este blog surgiu da necessidade de integrantes do C.I.S.C.O. retomarem algumas discussões iniciadas há anos atrás, quando o grupo realizava reuniões de estudo e debate regulares. Nosso tema de interesse centrou-se especialmente na crítica da organização social atual, a partir da leitura de textos e contextos da tradição libertária - no seu sentido mais amplo -, e é essa questão que pretendemos abordar em nossas postagens futuras.

Como sugere o próprio título do blog, não temos a intenção de ser um espaço de notícias regulares, mas sim um mural de discussão de temas contemporâneos, os mais variados, que apontem os limites e as contradições da organização social em que vivemos. A intenção é trazer um discurso que desconstrua a visão de mundo em que hoje vivemos, considerando que uma certa visão de que a História teria chegado ao seu fim é um dos maiores empecilhos para transformações e mudanças que, cada vez mais, vêm se mostrando tão necessárias.

Buscaremos não apenas levantar polêmicas e, dentro das possibilidades, procuraremos apontar alternativas viáveis que vêm sendo postas em prática em diferentes partes do mundo. Pensamos que isso é fundamental para se desnaturalizar algumas visões de que há apenas uma ordem possível.

Apesar de todas as nossas afinidades, não esperem um discurso consonante nesse espaço. Entendemos ser a diferença de idéias e práticas elemento enriquecedor do debate e, por isso, perceberão que posições divergentes serão defendidas aqui. Sendo assim, pensamos que a participação dos leitores nas discussões também é fundamental e é uma das razões de ser da criação desse blog que lançamos na rede virtual.

Saúde e Anarquia pra todos!!