quinta-feira, 2 de julho de 2009

Educação Ambiental e Mudança de Comportamento


*Este texto é uma contribuição do colega Valdir

A Educação Ambiental (EA), tendo por base a alfabetização ecológica, conforme colocada por Fritjof Capra, que é a assimilação de princípios ecológicos para o entendimento dos problemas ambientais e soluções destes, é uma das principais ferramentas para a sustentabilidade planetária. Junto com o desenvolvimento e adoção de novas tecnologias menos impactantes, reduzindo as emissões de poluentes, redução da extração de recursos naturais e uma nova conduta da política, com a valorização das pessoas, principalmente, as menos favorecidas socialmente. É parte inerente da EA a mudança de comportamento, por exemplo, diminuir o consumo, tomar atitudes menos poluidoras (reduzir o uso do carro, dar preferência ao transporte público, comprar produtos mais justos socialmente e de maneira limpa).

Mas, se muitas destas escolhas são dificultadas pela falta de recursos financeiros (os produtos ditos ecológicos geralmente são mais caros) ou usar o transporte público é quase impossível, alternativas para que todos nós participemos do processo de mudança, em busca do desenvolvimento sustentado, existem é possível observarmos isso no dia-a-dia.

Este processo de mudanças começa em nós, adotando a políticas dos 3R’s. Reduzir, Reutilizar e Reciclar, nesta ordem decrescente de importância. Muitas pessoas têm somado um quarto R, Repensar. O importante é ter em mente que não é apenas reciclar, ajudando uma pessoa que cata latinhas de alumínio. A reciclagem de latinhas de alumínio não é uma solução apenas social para a geração de renda, aliás, é uma demonstração das desigualdades sociais, na qual, muitas pessoas têm que viver de subempregos ou na informalidade para sobreviverem. Este também é um ato muito importante ambientalmente, pois reduz o uso de matérias primas e ainda economiza energia elétrica, usada em quantidades enormes na transformação da bauxita em alumínio.

O processo de mudança neste caso está relacionado a dois aspectos. Primeiro: deve-se reduzir o uso das latinhas, usar mais embalagens retornáveis, e antes mesmo disso, reduzir o consumo de refrigerantes, preferindo produtos mais saudáveis. Segundo: mudança de posição da sociedade em relação às desigualdades sociais, pressionando o poder publico, estimulando iniciativas de empresas, do terceiro setor e de cada cidadão, cada uma dentro de suas possibilidades.

Um fato interessante sobre a redução do consumo, é pensar qual é a quantidade de recursos naturais e energia gastos para produzir os produtos que consumimos. A FAO está com uma campanha sobre o uso intensivo da irrigação (utilizada no cultivo de 40% dos alimentos), fazendo com que a produção de uma caloria de comida exija um litro de água. Na campanha, é alertado que para produzir um hambúrguer são necessários 2400 litros de água. Mas pense em outros aspectos relacionados à produção de carne: desmatamento para a formação de pastos e plantio de soja (para exportação, usada na Europa para fazer ração animal); a perda de serviços ambientais e biodiversidade decorrentes disto, o gás metano produzido pelo gado bovino (flatulências e arrotos).

Nas teias alimentares há perda de energia quando a matéria passa de um nível trófico para outro (quando um organismo é consumido por outro), porque somente parte da energia é transformada em biomassa, o restante é gasto com a produção de energia (respiração). Pensando no nosso consumo, quando comemos produtores primários (plantas) estamos absorvendo uma maior parte da energia absorvida do sol do que quando comemos carne, isto é, o desperdiço de energia é menor, quando pensamos no ecossistema. Isto também determina outra conseqüência, as áreas destinadas à produção de produtos vegetais são bem menores do que para a produção de animais, reduzindo os impactos ambientais. Para entender isto, por exemplo, se formos comer soja, uma dada área terá que ser plantada para a produção dos grãos, mas se formos comer carne de gado criado com ração (a base de soja), uma área bem maior de soja terá que ser plantada para nos alimentar com a mesma quantidade de calorias.

Observe quantos problemas podem ser evitados dependendo da nossa escolha na hora de comer. E ainda nem comentei nada sobre a questão ético no fato de comermos carne. Mas continuando no raciocínio do desperdiço, se consumimos mais calorias do que o necessário, além de ser prejudicial à saúde, é também prejudicial ao meio ambiente, pois este excesso de energia consumida é também uma forma de desperdício. Fazendo uma analogia, se você toma um banho longo, ou seja, por um período maior do que o necessário, você está desperdiçando energia, quanto a isto não há duvidas, correto? Quanto ao consumo de calorias, para obtermos este excesso, mais soja terá que ser plantada para nossa alimentação. Agora imagine, se você come muita carne, quanta soja terá que ser plantada para suprir as suas necessidades e ainda o excesso. Estudos científicos têm demonstrado que o consumo reduzido de calorias é um fator que alonga a vida em ratos, aumentando ainda a qualidade de vida destes.

Bom, com estes argumentos, quero mostrar no que acredito. A EA é um caminho para a melhoria de vida de todos e para alcançarmos a sustentabilidade ambiental e social. Mas para isto, cada um não apenas pode, mas deve mudar suas atitudes, tornando-as mais responsáveis sócio-ambientalmente. E por último, como já dizia Paulo Freire, reforçado pelo Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, a educação é um ato político!

Um comentário:

  1. Inegavelmente a educação ambiental é fundamental no processo de transformação da visão da sociedade sobre o meio que a cerca. Contudo, alguns fatores devem ser considerados.

    1) os processos educativos não geram mudanças imediatas, colhendo resultados mais expressivos no longo prazo. Tempo que, talvez, não se possa esperar. Os desequilíbrio ecológico vêm atingindo índices alarmantes e medidas imediatas são fundamentais.

    2) apesar de ser um processo longo, as ações educativas na área ambiental não começam do zero. Uma consciência ecológica já pode ser percebida em níveis consideráveis na sociedade brasileira. Assim, um convencimento inicial sobre a premência das ações em busca de uma sustentabilidade ambiental já foi alcançado.

    3) Um dos grande problemas que se observa hoje é a distorção das informações sobre as medidas de garantia de sustentabilidade. O senso comum que se formou sobre quais as medidas são necessárias para a garantia de uma sustentabilidade futura apenas arranha a superficie do problema, trantando de medidas paliativas, como a reciclagem, o reflorestamento, dentre outros.

    4) sendo assim, entendo que ainda que as ações educativas sejam fundamentais e devam ser mantidas, não podem ser o único, nem mesmo o principal foco de ação, sendo importante medidas mais incisivas de informação, mobilização e ataque às práticas nocivas ao meio ambiente, com medidas de publicidade e juduciais.

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