domingo, 8 de janeiro de 2012

Anarcoprimitivismo como paradigma


[Bandeira do anarcoprimitivismo]

Anarcoprimitivismo é ateísmo, descrença total perante os deuses da civilização. Atitude profundamente iconoclasta e vitupério contra os grandes totens do mundo moderno.

O Anarcoprimitivismo está para a civilização como o cristianismo, em seus primórdios, esteve para o Império Romano. Aparentemente inofensivo, não desperta nenhum temor ou reação dos grandes conglomerados de poder. Mesmo entre as correntes de pensamento libertárias ocupa o lugar de utopia dificilmente materializável.

Não podemos esquecer que os devaneios carregam em si uma força fundamentalmente transformadora. A necessidade das utopias não reside em suas potencialidades escapistas, mas na capacidade de denunciar os absurdos do mundo concreto. Dito de outro modo, através do sonho enxerga-se o pesadelo da realidade. De tal sorte que Anarcoprimitivismo surgiu de uma urgência, a recusa de todos os aspectos da vida civilizada que nos escravizam.Cada aspecto que nos envolve encontra-se contaminado pelos mais sintomáticos aspectos do autoritarismo, da autofagia e da ruptura entre o homem e o essencial. A civilização legou ao ente humano o triste desígnio de destruir a si mesmo enquanto saqueia os constituintes que sustentam a vida. Portanto, falar em Anarcoprimitivismo significa defender o abandono de quaisquer ilusões quanto à superioridade do homem e as benesses civilizacionais. Nesse sentido, encontra-se a última radicalização possível do pensamento libertário, pois a crítica é sobretudo a constituição da humanidade como corpo diferenciado no planeta.

Desde que as pequenas coletividades humanas atribuíram a si próprias uma função produtiva iniciou-se o grande saque. O surgimento da agricultura representou a instauração de uma duradoura ditadura, inaugurando a obrigatoriedade do trabalho e o sentimento de desvinculação perante a natureza. O desenvolvimento da civilização trouxe o aprimoramento dos grilhões, consubstanciados em dois poderosos instrumentos ideológicos cujas forças se alternaram ao longo da história, ou a religião ou a ciência. Aparatos autoritários detentores de uma liturgia que prega o especismo, direito da humanidade em eliminar e instrumentalizar outras formas de vida. O homem se tornou um escravo da civilização, por sua vez escravizando o planeta a fim de satisfazer seus artificiais e insanáveis desejos.

Eis um cenário desolador, autofágico, contra o qual poucas vozes já se levantaram efetivamente. Mas, mesmo os observadores parciais concordam que a civilização está indo de encontro às limitações físicas do planeta, só que diante dessa constatação se alienam com autoenganos tais como “crescimento sustentável”. Porém não há mais como obliterar o processo de destruição em curso, ainda que o discurso civilizacional tente inviabilizar as mudanças, pregando um encadeamento inexorável do qual não há como fugir.

A desvinculação dos seres humanos perante o essencial explica a eficácia dos apelos civilizacionais. O homem jamais quis conhecer sua real imersão na cadeia da vida, assim exagerou sua importância na história física e biológica do planeta. Assertiva legitimada pela religião e ciência, que internalizaram o mais profundo sentido de hierarquização, não só entre as pessoas, mas entre as pessoas e as coisas.

O Anarcoprimitivismo talvez seja uma das mais sinceras inquietações, capaz de se frutificar como um paradigma de contestação alheio aos apelos da civilização. Não haveria nada nesse mundo a ser preservado: a luta não seria para a divisão, pela distribuição ou pela equidade, mas sim pela destruição, pela recusa da especificidade humana dentre as demais formas de vida. Uma corajosa escolha para a radicalização no processo de descoberta do que é essencial para a manutenção da vida na Terra.

Para outras informações sobre o Anarcoprimitivismo:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarcoprimitivismo

https://ervadaninha.sarava.org/introducao%20ao%20primitivismo.html

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