sexta-feira, 23 de maio de 2014

Torpor mental


I) O torpor mental é (tristemente) necessário. Dentro da prisão em que vivemos o torpor nos preserva do enlouquecimento e da auto-destruição, fazendo-nos entender, pragmaticamente, as vantagens da alienação. O vinho que os carcereiros servem turvam nossa vista, e assim esquecemos que nossos pés e mãos estão presos em grilhões; algemas novas e antigas.

II) A jaula. Todos nós sabemos (ainda que inconscientemente) que ela existe, mas é indigno reconhecer essa evidência e nada fazer, por isso o vinho, o vinho nos faz esquecer.

III) Toda rebeldia infantil é uma percepção inconsciente da jaula, por isso a disciplina é importante, trata-se da preservação da criança, com a fabricação de uma consciência de presidiário.

IV) O nosso processo de subjetivação encontra-se, mais do que nunca, fragmentado. A possibilidade de articularmos um pensamento de resistência é combatido a tudo custo. As tecnologia são dispersão, elas nos conduzem para o não lugar, o não pensar.

V) A tecnologia não é libertária. Ela não pode ter um uso libertário. O processo de autonomia significa a recusa aos instrumentos historicamente forjados para a fabricação da jaula. Em outros termos é um contra-senso pegar em armas falando em paz. Arma é arma. Está aí uma contradição que a práxis atual não pode resolver.

VI) Há vozes que gritam em nossas cabeças, elas não nos permitem ficarmos em silêncio, a contemplação não se coloca como uma maneira historicamente constituída de se relacionar com o mundo, porque não há oportunidades e também porque ela seria dolorosa. Temos que ser compreensíveis, o momento de ruptura com o torpor mental realmente é doloroso. Quando o afastamento (mesmo que provisório) de todas as tecnologias que nos escravizam é viabilizado (instante fugaz, mas possível) a dor da perda de nossas vidas individuais e coletivas é muito forte. A questão do sentido da vida transparece com clareza. Por que vivemos? Para ser consumidores? Para ser envenenados, escravizados, iludidos, esgotados?

VII) O atual desenvolvimento das tecnologias está a operar uma revolução em nossos processos de subjetivação do real, captamos apenas os fragmentos, a totalidade não é mais alcançada. A própria relação do indivíduo consigo mesmo torna-se mediada pela máquina. Basta olhar as cidades, isso fica evidente, as pessoas são conduzidas por pequenos aparelhos portáteis, com fios que se ligam diretamente às mãos, aos ouvidos, ao cérebro, a mente.

VIII) A solidão e o silêncio, o diálogo do indivíduo consigo mesmo, tornaram-se impraticáveis, de modo que as pessoas ficaram gratas pela consciência fabricada que que lhes foram impingidas. Suspender essa inteligibilidade industrial é contemplar um abismo, percepção de que o homem foi apartado da sua natureza. Não se trata aqui de uma discussão essencialista ou mesmo primitivista, mas da constatação de que somos todos ciborgues.

IX) O torpor mental é a maneira como a consciência individual e coletiva se manifesta, uma confusão constante, que só se amaina no processo do comprar e do vender. Nossas cidades estão cercadas de drogarias: drogas de todas qualidades e variedades são vendidas, dos fármacos aos eletrônicos, dos alimentícios aos cadeados e às grades. O torpor é a defesa para que nossa subjetividade pura e original não venha à tona. Nos drogamos para não compreender que estamos drogados e viciados. Compramos cortinas para tampar as grades e nos imaginarmos livres.

X) Estamos viciados com a segurança/insegurança. Isso significa que queremos grades cada vez mais fortes na ilusão de que esse gradil de aço nos protegerá da verdadeira cerca, metabolicamente construída pelo capital e pela mentalidade exterminista do ocidente.

XI) A dúvida que fica é saber quantos poderão suportar a dor de ver com objetividade a gaiola à qual estamos aprisionados. A primeira reação é a da violência, quando não do auto-extermínio. Sem uma estratégia coletiva a autonomia não será possível. Por isso os catastrofistas acham que só o caos é a salvação. Mas não basta destruir a gaiola, é necessário decidir o que vem depois.


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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

À Guerra!!


O Megaupload foi derrubado hoje! Tempos negros se avizinham! À Guerra!!

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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

SOPA Faz Mal!!

Apesar de o Congresso Americano parecer ter dado os primeiros recuos, temos que empurrar o capeta até o fundo do buraco e fechar a porta. A maior tentativa já levada a cabo para criminalizar a livre circulação na internet, o SOPA (Stop Online Piracy Act), pretende retroagir em séculos o poder de comunicação da sociedade, bem como destruir qualquer proposta mais democrática de acesso a informação e de organização e produção do conhecimento. 
É mais da mesma lenga-lenga, que visa reafirmar os princípios mais velhos e carcomidos de propriedade intelectual – deixando de lado outras iniciativas que redefinem a forma como nos comunicamos hoje. Sendo o SOPA aprovado, a censura estará imposta, sem contar o mais bizarro de tudo, que é fato de que o governo americano teria o poder de derrubar sites em TODO O MUNDO caso julgasse que o mesmo infringisse as leis de direitos autorais de empresas americanas. E mais, não apenas os que disponibilizam links e armazenam informações seriam perseguidos, mas também sites de procura e referência poderiam ser derrubados caso o governo americano julgue que eles estejam “localizando” os contraventores. Por exemplo, se você está a procura de um cd qualquer para baixar no Google, e em sua pesquisa aparece um link para um torrent no resultado, eles poderiam derrubar o Google. É medieval! É como matar um passarinho com uma bazuca e acertar tudo o que está em volta. Sites como Google, Facebook, Twitter, Wikipedia e Youtube – entre outros de menor repercussão – estão planejando um apagão geral como forma de se manifestar contra a proposta. Uma série de sites nacionais também está planejando aderir ao apagão. Informe-se!

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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

II Churrascão da Gente Diferenciada



Vamos todos participar do II Churrascão da Gente Diferenciada. Contra as políticas higienistas e a praga da especulação imobiliária na cidade de São Paulo. Vamos ocupar o espaço público para que os governos privatistas e as Incorporadoras não o façam

Sobre o assunto, conheçam o blog do Coletivo DAR

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domingo, 8 de janeiro de 2012

Anarcoprimitivismo como paradigma


[Bandeira do anarcoprimitivismo]

Anarcoprimitivismo é ateísmo, descrença total perante os deuses da civilização. Atitude profundamente iconoclasta e vitupério contra os grandes totens do mundo moderno.

O Anarcoprimitivismo está para a civilização como o cristianismo, em seus primórdios, esteve para o Império Romano. Aparentemente inofensivo, não desperta nenhum temor ou reação dos grandes conglomerados de poder. Mesmo entre as correntes de pensamento libertárias ocupa o lugar de utopia dificilmente materializável.

Não podemos esquecer que os devaneios carregam em si uma força fundamentalmente transformadora. A necessidade das utopias não reside em suas potencialidades escapistas, mas na capacidade de denunciar os absurdos do mundo concreto. Dito de outro modo, através do sonho enxerga-se o pesadelo da realidade. De tal sorte que Anarcoprimitivismo surgiu de uma urgência, a recusa de todos os aspectos da vida civilizada que nos escravizam.Cada aspecto que nos envolve encontra-se contaminado pelos mais sintomáticos aspectos do autoritarismo, da autofagia e da ruptura entre o homem e o essencial. A civilização legou ao ente humano o triste desígnio de destruir a si mesmo enquanto saqueia os constituintes que sustentam a vida. Portanto, falar em Anarcoprimitivismo significa defender o abandono de quaisquer ilusões quanto à superioridade do homem e as benesses civilizacionais. Nesse sentido, encontra-se a última radicalização possível do pensamento libertário, pois a crítica é sobretudo a constituição da humanidade como corpo diferenciado no planeta.

Desde que as pequenas coletividades humanas atribuíram a si próprias uma função produtiva iniciou-se o grande saque. O surgimento da agricultura representou a instauração de uma duradoura ditadura, inaugurando a obrigatoriedade do trabalho e o sentimento de desvinculação perante a natureza. O desenvolvimento da civilização trouxe o aprimoramento dos grilhões, consubstanciados em dois poderosos instrumentos ideológicos cujas forças se alternaram ao longo da história, ou a religião ou a ciência. Aparatos autoritários detentores de uma liturgia que prega o especismo, direito da humanidade em eliminar e instrumentalizar outras formas de vida. O homem se tornou um escravo da civilização, por sua vez escravizando o planeta a fim de satisfazer seus artificiais e insanáveis desejos.

Eis um cenário desolador, autofágico, contra o qual poucas vozes já se levantaram efetivamente. Mas, mesmo os observadores parciais concordam que a civilização está indo de encontro às limitações físicas do planeta, só que diante dessa constatação se alienam com autoenganos tais como “crescimento sustentável”. Porém não há mais como obliterar o processo de destruição em curso, ainda que o discurso civilizacional tente inviabilizar as mudanças, pregando um encadeamento inexorável do qual não há como fugir.

A desvinculação dos seres humanos perante o essencial explica a eficácia dos apelos civilizacionais. O homem jamais quis conhecer sua real imersão na cadeia da vida, assim exagerou sua importância na história física e biológica do planeta. Assertiva legitimada pela religião e ciência, que internalizaram o mais profundo sentido de hierarquização, não só entre as pessoas, mas entre as pessoas e as coisas.

O Anarcoprimitivismo talvez seja uma das mais sinceras inquietações, capaz de se frutificar como um paradigma de contestação alheio aos apelos da civilização. Não haveria nada nesse mundo a ser preservado: a luta não seria para a divisão, pela distribuição ou pela equidade, mas sim pela destruição, pela recusa da especificidade humana dentre as demais formas de vida. Uma corajosa escolha para a radicalização no processo de descoberta do que é essencial para a manutenção da vida na Terra.

Para outras informações sobre o Anarcoprimitivismo:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarcoprimitivismo

https://ervadaninha.sarava.org/introducao%20ao%20primitivismo.html

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sexta-feira, 18 de março de 2011

Faça seu chefe te demitir

Extraído do Manual do Sabotador

Vai lá otário, puxa-saco do chefe. Faz hora extra, aceita o banco de horas. Diz que aquele trabalho é a coisa mais importante da sua vida. Mostra seu entusiasmo na reunião da segunda de manhã.

Você adora isso. Eu sei. Vai lá fazer o relatório do mês. Esse texto não é para você.

Esse texto é para aquele incompetente que cochila na hora do almoço, que esquece de ler a apostila do workshop sobre gestão empresarial. Estou falando daquele cara que acessa putaria no trabalho, que troca o nome da mulher do chefe ao encontrá-la no jantar de fim de ano. Cara, você é um loser, e é para isso que estamos aqui. Afunde esse barco que nunca deveria ter zarpado.

Em primeiro lugar você é muito bom. Continue assim, mas agora vamos refinar suas técnicas, está na hora de sabotar seu próprio trabalho, mas não daquela forma maravilhosamente intuitiva, falo de procedimentos quase científicos. Você será o tormento do seu chefe e ele vai te demitir por isso. Mas você não dá a mínima.

Em primeiro lugar não se esqueça: seu chefe é um autoritário filho da mãe mother-fucker de primeira grandeza. Há uma incompatibilidade preliminar entre a chefiatura e o respeito mínimo a qualquer fagulha de autonomia. Por isso é seu dever causar a enxaqueca do big boss no fim da tarde, obgrigue-o a sorver mais um pouquinho daquele suposto remédio, um veneno legalizado na forma de pequenas pílulas ou em um amarronzado líquido chamado whisky.

Há várias maneiras de sabotar um emprego, há várias maneiras de ser demitido em alto nível. Falo de uma arte constituída nos subterrâneos dos ambientes empresariais por escórias como você e eu.

Uma estratégia maravilhosa é o Condicionamento da Confiança Recebida e Depois Quebrada (CCRDQ). Opção ideal para aquele funcionário modelo, que levou no couro por anos a fio, gerando lucros para o patrão e recebendo sempre o mesmo salário de merda mais um aperto de mão hipócrita e vagabundo. Deixa o seu chefe confiar, deixa ele concentrar o gigantesco trabalho nas suas mãos, uma conta tão importante. Muita grana, muito prestígio em jogo, o prazo é crítico, sempre o reconforte com palavras de “está tudo sobre controle”. Quando ele pedir algum detalhamento o engane com frases repletas de jargão da área, sempre exagere nos advérbios, escolha os substantivos mais sisudos e vez ou outra inclua um adjetivo. As 20 horas do dia anterior à entrega do produto ligue despreocupadamente e diga que você vai passar umas duas semanas no litoral, o calor está asfixiante, você precisa respirar. Diga que não será possível enviar os arquivos finais, pois seu computador foi para a manutenção, C:/format. Mas não pare por aí, tranquilize-o com a informação de que você acaba de enviar por e-mail os esboços preliminares – aqueles mesmos arquivos que ele te passou três meses antes. Desligue o telefone, o suplício do seu chefe só começou, as próximas 12 horas do sacana serão um inferno. Tu já podes pensar no que vai fazer com o seguro desemprego.

Se sua índole é a ridicularização pública do chefe, você pode apelar para a Fragmentação do Encanto do Opressor (FEO), ótima escolha para desprestigiar aquele diretor ou coordenador que se acha. Aquele tipo que faz uma piadinha sobre você, arrebatando o riso dos lacaios ao redor. Aquele que adora gritar, gosta de posar de mau. Veja, ferrá-lo é um favor que você faz à humanidade. Na noite anterior à reunião vá para a esbórnia, tome todas, se embriague, durma apenas uma hora, não se preocupe, sua demissão não há de demorar. Dia seguinte, após o almoço, sinta o quão incômodo é seu terno, essa gravata idiota, nada propícia para um país tropical. O ar-condicionado além de fazer barulho irritante não vale muita coisa. Respire devagar, deixe o sono se aproximar, deixe seu corpo amolecer, feche os olhos por 20 segundos e curta os procedimentos de decolagem para a fila do desemprego. A piadinha sarcástica do big boss sobre seu breve cochilo vai acordá-lo enquanto gera risadas entre os capachos. Acorde rapidamente, olhe para ele, peça desculpas de uma forma desinteressada. Assim que a atenção desviar de você, conte 10 carneirinhos, outro delicioso cochilo. Em plena a mesa de reuniões, justo no dia em que a pauta é o aumento da produtividade a partir do empenho dos recursos humanos. A psicóloga sentada ao seu lado inconscientemente vai se afastar, ela não quer proximidade contigo, medo de ser contaminada por sua atitude autodestrutiva. Agora seu chefe está gritando, olha só, ele quer acabar contigo, todos em silêncio, aparentemente consternados, mas por dentro satisfeitos com o pito. Olha quanta merda seu chefe está falando, ele realmente saber como gritar, sua voz é tão grave, olha só o nível das ameaças. Tantos clichês, essa história de “lá fora tá cheio de gente querendo seu emprego” é muita velha. Pensando bem, a voz do chefe geral é até bonitinha, ela parece cantiga de ninar, deixa o ritmo dela te embalar, cochile de novo, bem no momento em que ele esteja gritando “quero um funcionário compromissado”.

Escuta essa, também é muito boa. Recomendável apenas aos que possuem uma veia artística, trata-se de Dinamização Intensa de Atividade e Desempenho (DIAD). Seu chefe quer alguém produtivo, então o satisfaça, produza para além do impossível. Você é o cara que dá todas as ideias, o voluntário, quer fazer parte de todos os projetos. Nas reuniões é o que mais fala, levanta as mãos várias vezes, faz perguntas longas pedindo detalhamentos enfadonhos. Após o término de cada reunião corra atrás do patrão, cole nele e comece a comentar sobre os mais variados aspectos, se ele entrar no banheiro vá junto, siga-o com as suas anotações, fale dos números, de suas estimativas. Perca o fôlego, deixe o suor escorrer de sua testa, dê aquele sorriso entusiasmado de garoto de 10 anos querendo agradar a professora. As três da manhã da terça-feira ligue para seu chefe e diga que tem uma ótima ideia para um novo contrato, ele vai custar entender quem é você e de que diabos de contrato está falando. Depois que ele desligar, espere 15 minutos e ligue de novo para pedir desculpas pela ligação anterior, encerre com a frase “estou tão empolgado”. Descubra aonde ele vai na noite de sábado, enquanto estiver na fila do cinema com a esposa e a filha, aproxime-se, não esqueça do terno e da gravata afrouxada, uma prancheta nas mãos, trate-o naturalmente, como se estivessem no expediente, pergunte sobre o corte de gastos com os copos de papel. Aos poucos o funcionário modelo será o terror do big boss, ele terá pesadelos contigo. Não se iluda, seus dias na empresa estão contados. Te compete encerrar com chave de ouro. Chame seu chefe tenha uma séria conversa com ele, diga que está insatisfeito com os índices de produtividade, peça mais esforço, exorte-o a ser mais ativo, fale da responsabilidade que ele carrega nos ombros, da obrigação em bater as metas. Toda vez que alguém perguntar por que você foi demitido, ele responderá constrangido, “era muito produtivo”.

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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Lançamento da "Outra Campanha Brasil"


Convidamos todas as pessoas, organizadas ou não em movimentos sociais e coletivos, a participarem do lançamento e da construção da "Outra Campanha" em São Paulo.

Espçao Ay Carmela! Dia 19-09-2010

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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Outra Campanha - Brasil


A Outra Campanha é uma articulação aberta aos grupos, movimentos e companheiros/as interessados/as em construir uma outra forma de fazer política, com base no protagonismo e na luta popular. É na luta e na organização popular que se cria o poder popular, que fazemos valer nossos direitos e arrancamos das elites políticas e econômicas as conquistas.A Outra Campanha Brasil é inspirada em "La Otra Campaña" organizada pelos zapatistas.

Aproxima-se mais um período de eleições onde toda a população é chamada para votar. Todos nós já estamos fartos de tantas promessas, mentiras e escândalos de corrupção. Além disto, o modelo representativo não resolve, mas agrava nossos problemas, subordinando as decisões políticas ao crivo de supostos especialistas. Quando escolhemos atuar dentro da esfera parlamentar, adequamos a luta dos movimentos sociais a legalidade burguesa, que apenas mantém e conserva toda a situação de miséria e opressão de nosso povo! A ação parlamentar não pode ser vista como "complementar" a ação dos movimentos sociais, mas sim como sua antítese, seu freio, a oposição completa e absoluta da democracia direta e da autonomia da luta.

"Queremos que a responsabilidade do governo não seja exclusiva de um grupo, que não haja “dirigentes profissionais”, que o maior número possível possa fazer o aprendizado" (Subcomandante Marcos)

- Outra campanha, para convocar a luta e a organização popular, não para pedir votos, é o trabalho que nos mobiliza para fazer política. Porque a política não é assunto só para especialistas ou representantes.

- Outra campanha para lutar por um programa de emergência que atenda as necessidades do povo e enfrente os problemas sociais mais graves da cidade. Para recuperar a dignidade do que sofre na vida o preço da promessa não cumprida, pois somente a ação direta dos de baixo contra os que oprimem é capaz de fazer justiça.

- Outra campanha para construir um povo forte, para organizar os desorganizados, para unir os movimentos sociais que lutam, para fazer política com as próprias mãos com independência do governo, do partido e do patrão, pela decisão das assembléias e da luta popular em unidade.

- Outra campanha para dar voz a quem não é deixado falar, para construir participação popular onde o poder faz exclusão, para criar capacidade política pelos lugares de trabalho, estudo, moradia, pela cultura e os meios de comunicação comunitários.

- Outra campanha para construir poder popular, pra acumular forças com democracia de base e tomar de volta a política dos corruptos, das oligarquias e dos grupos dominantes do poder.

Links de Organizações que aderiram à "Outra Campanha":

Outra Campanha Brasil
Organização Popular – Rio de Janeiro
OPA – São Paulo
Coletivo Quilombo - Bahia
Resistência Popular - Alagoas
Resistência Popular – Rio Grande do Sul

Baixe aqui a Cartilha e saiba como participar da Outra Campanha Brasil

Saúde e Anarquia pra Todos!

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Tentações Totalitárias


Merda à vista!

O anúncio do acordo entre a Google e a Verizon, na semana passada, abre espaço para a derrocada da internet como conhecemos. Isso se daria pelo fim da neutralidade das buscas e serviços na rede – através de um sistema que teria a capacidade de priorizar “um” ou “outro” tipo de tráfego segundo critérios como velocidade entre outros escusos. Desse modo, seriam criados dois espaços virtuais: o ‘Público’ e os ‘Serviços Online Adicionais’. Basicamente, estamos falando de um plano de Privatização da Net.

Atividades tidas como lentas, então, poderiam ser barradas: Torrent é o melhor exemplo disso. Isso consistiria num revés fortíssimo ao caráter libertário do fluxo de informações na Web, de modo a transformá-la numa máquina de propaganda e de veiculação do politicamente correto tão, ou mais, eficiente se comparado ao que se transformou a televisão.

Esse acordo ainda tem que ser analisado e liberado pelo Estado americano. Só uma pressão vinda de todos os lados poderia barrar uma putaria como essa, que acabaria implementando o princípio mercadológico num dos espaços mais ricos e libertários por onde ainda se faz uma cócega ao sistema.

E nós anarquistas e libertários? Vamos assistir mais uma vez? Seremos um dos principais
afetados.

Mais informações aqui, aqui e aqui.

Saúde e Anarquia pra Todos!

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Mais Democracia Nunca é Ruim


Dando continuidade às questões que vêm sendo levantadas nos últimos textos, gostaria de aprofundar o ponto relativo à estratégia, ou melhor, tentar perceber a estratégia como um fim em si mesmo. Isso vale para discutirmos as inflexões dos movimentos libertários reais e virtuais, procurando encontrar elementos teóricos que possibilitem um fortalecimento da autonomia nos dias atuais. Esse post também procura por em debate uma possível realocação das esperanças libertárias.

Penso que um dos erros centrais das esquerdas – não todas –, bem como de algumas direitas, no passado, seria ver a democracia como inimiga a ser combatida. No caso dos anarquistas, é um erro analisar a democracia e os estados modernos apenas na chave de uma burocracia que detém o poder e nos oprime. Essa visão faz muito sentido se analisada frente aos séculos XVIII, XIX e parte do XX – e olhe lá! É bastante coerente, também, com leituras automáticas da realidade feitas a partir de certa filosofia pós-estruturalista – alguns falam até em “campos de concentração a céu aberto” ao definirem a atual conjuntura.

Certas críticas pós-modernas chegam afirmar que não há diferenças significativas entre democracia e totalitarismo, estando presente, em ambos os casos, todo um aparelho repressivo de disciplinarização dos corpos e mentes. Já ouvi também, da boca de muitos autodenominados anarquistas e/ou libertários, que viver sob uma ditadura não seria muito pior do que sob o regime em que vivemos agora, e até, dependendo do caso, a situação seria melhor. Minha percepção sobre isso se encerra em algumas poucas possibilidades, de modo que pessoas que afirmam tais calamidades: ou estão filosofando de dentro dos seus confortáveis gabinetes climatizados, ou são pseudo-intelectuais que vivem em apartamentos caros, ou, ainda, são retardados obcecados por uma doutrina política engessada há mais de um século.

Na vida real, entretanto, a participação política tem espaços para ir muito além do princípio da representatividade, e a vida social não chega a ser tão sufocantemente controlada. Felizmente, ou infelizmente para alguns, ainda não vivemos como mostraram alguns filmes distópicos da década de 80/90. A veiculação desse tipo de interpretação da realidade só nos traz medo, imobilismo ou, no máximo, pretensões de redenção através de banhos de sangue, espontaneísmos heróicos ou coisas do gênero.

Não devemos lutar contra a democracia. Por duas razões básicas: em primeiro lugar, é ridícula a leitura que mostra Democracia e Capitalismo como sinônimos ou coisas que só existem quando acompanhadas uma da outra. Em segundo, é igualmente reducionista criticar as “democracias reais” da atualidade encerrando a discussão em torno da questão da representação, dos partidos, do aparelhamento e toda essa dimensão em que, muitas vezes, costuma-se fechar a crítica libertária sobre o assunto.

Nossa postura deveria caminhar na direção contrária, procurando aprofundar, radicalizar – no sentido de ir às raízes mesmo – os atuais regimes democráticos, buscando uma democracia cada vez mais palpável, pra não dizer Direta. Nesse sentido, me irrita a completa falta de compromisso dos anarquistas em geral em ignorar solenemente temas como Reforma Política, Reforma do Judiciário ou a questão do voto obrigatório – no caso do Brasil. Partindo do pressuposto que o Estado deva ser destruído por se constituir no ‘Grande’ empecilho à liberdade dos povos, ficam de lado elementos centrais para a construção de uma pedagogia da autonomia, bem como de uma prática da liberdade, que seriam fundamentais para resgatar, e redefinir, nossas esperanças e espaços de manobra política.

Quer queiram, ou não, a Democracia está aí, foi uma conquista que sacrificou a muitos: incompleta, indireta, xôxa, simulada ou não, e se é aplicável a todos os lugares, é algo que só cada sociedade poderá responder. O ponto fundamental é sabermos que a vida em democracia é sempre incompleta, de modo que nos resta não destruir o que existe para começar do zero, mas sim radicalizar, investindo na ação direta (se pacífica ou não, creio que isso depende de cada circunstância), nos aliando aos mais variados grupos e tendências (variando, também, conforme o contexto e guardando o devido bom senso, claro), enfim, construindo uma Democracia Direta, que dê espaço para a “inventividade”. E quando falo de Democracia Direta, não penso, necessariamente, no fim das burocracias estatais – mas sim num processo de crescente horizontalização das tomadas de decisão das mais diversas naturezas – o resto é conseqüência.

O neoliberalismo, essa doutrina que inocula a tudo a lógica do mercado, vem instrumentalizando e corroendo a Democracia, de modo que deve ser combatido duramente com mais Democracia. Sou muito resistente a análises puramente conceituais, de modo que afirmações do tipo “A existência do Estado pressupõe miséria”, sugerem uma profunda alienação em relação à vida real em favor de análises puramente filosóficas que não vão além do papel. Isso me leva a crer que determinados setores de autoridade do estado devam ser restituídos, sob a pena de, daqui a pouco, nos convertermos em súditos de meia dúzia de transnacionais que, estas sim, não possuem absolutamente nada de democrático nas suas constituições e funcionamento. E a isto, nós anarquistas, estamos apenas assistindo de camarote.

Por obsessão com a utopia libertária, os anarquistas, ironicamente, têm a deixado de lado. Em recente entrevista, o professor Edson Passetti afirma sobre os anarquistas do XIX/XX: “Eram mutualistas e federalistas. Por isso mesmo, a possibilidade da utopia anarquista acontecia, diariamente, por meio de atividades produtivas, educativas, culturais e de rompimento com os costumes burgueses relativos, principalmente, a formação da família, relações amorosas, alimentação, e maneiras de educar uma criança. Inventavam uma vida livre no presente e, com isso, elaboravam uma nova moral da igualdade e da liberdade, baseadas na ação direta (...) e no rompimento com o princípio da representação.” No entanto, os anarquistas de hoje não têm conseguido dar conta de criar esses espaços ao ficar apenas no nível do denuncismo, bem como na falta de uma integração de suas iniciativas à vida cotidiana, para além de grupelhos de fim de semana e sites na internet.

Adotando esses princípios, temos que atuar, hoje, em dimensões antes tidas como convencionais, e que agora se postam como centrais na construção de uma realidade mais democrática. Nesse sentido, penso na questão do ‘Trabalho’, já bastante discutido aqui no C.I.S.C.O.: é dever da prática anarquistas/libertária agir no sentido de re-significar essa noção. Isso se daria por meio da mobilização em diferentes correntes: defesa dos direitos trabalhistas (apesar das várias críticas que podemos tecer sobre estes, considero que ainda é melhor do que nada, como pretendem muitos hoje), associações de desempregados visando constituição de redes de economia solidária e cooperativas, fortalecimento dos movimentos sociais que pressionam os Estados no sentido de aumentar a participação popular nas decisões da política econômica entre outras áreas, incentivo ao municipalismo, libertário ou não, etc.

Penso que, por esse caminho, fica mais clara uma saída para a difícil tarefa de unir local e global sem, no entanto, cair nas falácias do localismo estremado ou, por outro lado, permanecer nas nuvens esperando por uma hegemonia que nunca vem. Lembrando que, no entanto, todas as frentes de luta são válidas.

A despeito disso, muitos se perguntam sobre a questão da ‘passividade’ de grande parte das pessoas. E concordo que esse seja um ponto fulcral para se pensar os movimentos sociais e a democracia atualmente. Apesar dos absurdos que constatamos diariamente, porque a falta de envolvimento geral com as questões de natureza pública? No próximo post tentarei fazer algumas reflexões sobre o assunto.

*-*-*

PS: A produção desse texto contou com inspiração, entre outras fontes, dessa entrevista do Prof. Edson Passetti. Apropriei-me de alguns conceitos e análises, no entanto certas opiniões encontraram caminhos divergentes.

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O que fazer (2)?

Viaduto na Av. Amazonas (Belo Horizonte/MG).













Sempre que passava por aquele local via pessoas alojadas sob o viaduto. A estrutura criava um vão que permitia a organização de fogueiras, fogões, dormitórios e outros pequenos improvisos.

O viaduto fica em um local desabitado, não há residências, apenas oficinas mecânicas e uma pista para moto-escola. A pobreza ficava convenientemente escondida.

Algumas semanas fora e ao retornar vejo que os freqüentadores foram retirados ou expulsos. O salão sob o viaduto recebeu um preenchimento de terra, um modo de impedir que os sem-teto retornassem.










Época interessante a que vivemos, os viadutos podem dar abrigo aos automóveis, mas não aos despossuídos. Houve a extinção de um espaço de uso coletivo – uma apropriação precária – como recusa em reconhecer a existência da pobreza.

Preferimos os carros aos seres humanos. O local não tem visibilidade (o que não justifica sequer as políticas de higienização), mas parece haver uma intenção deliberada de tornar a cidade cada vez mais inóspita aos expropriados.

As placas e as formas “legítimas” de ocupação do espaço visto nas fotografias trazem uma mensagem clara:

Preferimos os carros às pessoas, vocês não são bem-vindos”.










[FOTOS: Belo Horizonte (MG), agosto de 2010, por El Luchador Mysterioso]

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domingo, 15 de agosto de 2010

Instrumentalização de métodos para uma praxe anticapitalista

O presente texto faz parte de um esforço de reflexão que, entre outros componentes, objetiva um esclarecimento quanto possibilidades de resistência às poderosas tendências hegemônicas da contemporaneidade. Embora os cenários que nos circundam se aparentam bastante sombrios, há espaço para avaliações não derrotistas.

As principais propostas de resistência evocadas por grupos de tendências anarquistas ou socialistas parecem padecer de um mesmo mal, ou são míopes quanto as condições mentais e espirituais dos tempos em voga ou se perdem em bairrismos e especializações contraproducentes. De um lado há aqueles que querem atuar nos moldes dos levantes políticos do século XIX e da primeira metade do século XX: ou esperam uma revolução orquestrada por uma vanguarda mega-consciente de sua importância no devir histórico ou um levante espontâneo, pronto a varrer todos os ditames da opressão (desse modo despolitizando a própria ação política). Do outro lado, vemos grupos que desistiram das atuações holísticas, universalistas e engatadoras, suas atuações pautam-se por um imediatismo e localismo: freeganistas, ciclistas, vegans, web-ativistas etc.

Bem, os primeiros não valem maiores comentários – houve momentos nos quais o socialismo e o anarquismo em moldes clássicos eram possibilidades concretas. Porém esse tempo já passou e, idealizações românticas a parte, não há porque insistirmos em uma rememoração acrítica dessas experiências. Os grupos localistas merecem uma análise mais pormenorizada, tendem a conseguir integrantes para suas bandeiras com causas concretas e que atravessam o cotidiano dos grandes centros urbanos.

Os ciclo-ativistas e os freeganistas exemplificam essas correntes, a recusa ao automóvel e à sociedade de consumo, a busca por uma mobilidade e o direito ao usufruto dos excedentes conscientemente descartados. Ambos questionam valores da sociedade capitalista e, em um nível mínimo que seja, apresentam soluções para os problemas que apontam. No entanto o potencial do capital em absorver contestações é impressionante, a sua versatilidade só merece elogios, já que as crises e as dificuldades são importantes momentos para sua reinvenção.

Quando todas as vias estiverem abarrotadas de automóveis e estes veículos perderem a áurea que os cercam, os publicitários não pensarão duas vezes em elevar a bicicleta ao patamar de novo símbolo de status e desejo de consumo. Isso em nada interferirá no sistema do capital. O mesmo pode ser dito sobre as ocupações de prédios abandonados, a especulação imobiliária ainda tem larga faixa para explorar e os invasores não serão vistos como usurpadores, mas sim como futuros clientes a serem assimilados. Mesmo os que fogem à sociedade de consumo não estão ilesos, o exército de consumidores na ativa possibilita a manutenção de uma divisão na reserva.

Estou cético quanto aos movimentos contestatórios em moldes localistas que proliferam no cenário urbano e que não buscam vínculos com um eixo global. Avanço essa reflexão com a ideia de que as grandes cidades não são propícias para a prática anarquista. As práticas libertárias antes de se manifestarem como ação política se constituem em um fundo ideológico, cultural e subjetivo. Os moradores da cidade encontram-se dependentes da ação regulatória do Estado, que oferece a (falsa) sensação de segurança e normalidade, mesmo que em níveis precários. O controle da ordem, a iluminação pública, a limpeza urbana, o fluxo do trânsito e a gestão de outros serviços essenciais integram o rol das prerrogativas do Estado e de unidades jurídico-institucionais ou jurídico-particulares de poder.

As comunidades não compreenderiam facilmente a tese de uma falência do Estado como pré-requisito para uma vida cívica mais completa. Explica-se as dificuldades do anarquismo na cidade, a noção de um Estado protetor está internalizada. O próprio marxismo teria maiores facilidades para desenvolver nesses contextos, pois uma ditadura do proletariado é menos distante do que a perspectiva de uma ausência do Estado. Muitos podem ser convencidos de que a vida melhoraria se os oprimidos detivessem o poder e reformassem a ordem social, no entanto a ausência de estruturas de poder aterroriza os habituados com a vida de cativos.

Os movimentos libertários mais consistentes se desenvolveram em regiões rurais (ou de tradições rurais), onde a interiorização das instituições coercitivas limitou-se a superfície, dando ampla margem para a vida comunitária e colaborativa. A tese espontaneísta do anarquismo é verdadeira para cenários nos quais as redes vicinais preponderam, os mutirões são frequentes e a economia moral barra as pressões mais mercantis. Os grandes fazendeiros e as elites locais são associados ao Estado, portanto libertar-se da opressão equivale ao término dos poderes institucionalizados.

Seguindo essa linha de argumentação, aceitaremos a distinção entre campo e cidade como a diferenciação entre a fraca internalização e a forte internalização dos valores de submissão perante o Estado. Com a ausência de um poder estatal em uma megalópole como Nova York, por exemplo, e com a notória dificuldade dos anarquistas em se organizarem adequadamente em momentos críticos – vide a história militar da Guerra Civil Espanhola – não seria muito absurdo supormos que o caos, de fato, prevaleceria nos primeiros momentos (algo passível de se prolongar durante anos ou décadas).

A abordagem municipalista resolve, no nível teórico, esse problema. O movimento de emancipação seria das áreas rurais para os povoados e distritos, dali para as pequenas cidades e, em seguida, para as médias, a adesão dos grandes centros urbanos seria uma consequência final e esperada. O esfacelamento do Estado, no entanto, só se viabilizaria em conjunto com o desmoronamento do capital. Uma confiança nutrida no municipalismo não deve subestimar as habilidades dos sistemas piramidais do poder em eliminar os focos realmente ameaçadores.

Conforme dito anteriormente, neste texto e em outros posts, a ausência de uma articulação global de questionamento às forças hegemônicas pode reduzir uma promissora estratégia a um ato inócuo. Ao contrário do que se pensa, o Estado subserviente ao capitalismo é relativamente tolerante, e dentro de uma racionalidade do custo-benefício sempre se pergunta se vale o desgaste de coibir determinada expressão. Mas de modo algum há negligência quando as contestações atingem determinadas dimensões. Nesse sentido, uma das mais importantes dissonâncias à ortodoxia liberal-capitalista vive no EZLN, em Chiapas, e não obstante todo o seu potencial fabuloso, tal experiência não serve eficazmente como modelo de ação para outras regiões do mundo. Só a tradição política mexicana, com suas revoluções, sua rebeldia camponesa e seu cripto-anarquismo explicam esse novo projeto de mundo, infelizmente geograficamente muito restrito se comparado à onipresença do capital.

O anti-consumismo pode até fundamentar ideologicamente uma ação, e o municipalismo colocá-la taticamente em movimento, mas falta a estratégia engajadora e aliciadora. Algo que será encontrado na causa ecológica, o desafio mais poderoso ao capitalismo contemporâneo. Cada época forja as armas que serão utilizadas para sua derrocada – todos nós sabemos a quem pertence essa ideia – e o atual sistema de produção não foge a regra.

As atuais articulações corporativas para a defesa do meio ambiente são fracassadas e insinceras, mas têm cumprido o seu papel em conquistar novos adeptos para o capitalismo verde. Fala-se em preservação, em responsabilidade ambiental, em tecnologias não agressoras ao bioma. Entre o discurso e a prática vai uma larga distância, mas os empresários não podem mais minimizar as questões ambientais, pelo contrário, elevaram-nas ao patamar de importância máxima, tanto que já há uma especulação financeira na qual se vende o direito de poluir. O mercado de carbonos não é piada, mas a materialização das contradições do capitalismo,entre sua nova promessa preservacionista e seu conhecido afã predatório.

Muitas pessoas estão suscetíveis a essa mensagem, os lugares comuns sobre a defesa da vida esconde um processo de destruição sem precedentes que está em curso. Manutenção de reservas, reciclagem, compensações pelo desmatamento, uma encenação que aplaca os remorsos das classes médias. Todo modo, eis um compromisso que o Estado e o capital assinaram e que não podem voltar atrás impunemente. Além disso, o iluminismo trouxe a entronização definitiva do homem como entidade ética, este se tornou por sua racionalidade um ser superior. Em contrapartida a natureza despolitizou-se, realçada a condição de reserva das vontades humanas. No século XIX se viu uma romantização do natural em contraponto a leitura da civilização como o progresso. Uma das consequências desse processo é que se pode defender as causas ambientais tratando-as como se não consistissem em problemas políticos.

As corporações usam desse engodo: o manejo de animais ou a derrubada de árvores constitui-se tecnicidades, desligadas de qualquer decisão política – impassíveis e imparciais. As mineradoras promovem grandes atentados à vida não porque querem, mas por questão da ordem e método.

As corporações têm fiado as próprias cordas com que vão se enfocar. A intensificação da defesa ao meio ambiente poderá se fantasiar, por sua vez, em uma questão meramente técnica. Um discurso eficaz para convencer a opinião pública, enquanto nos subterrâneos da resistência surgem os verdadeiros amparos para as contestações radicalizadas. Não podemos negar que os tempos são de conservadorismo generalizado e não há nada que o homem mais deteste do que o próprio homem. O projeto sombrio que se materializou teve eficácia em destruir um sentimento de público e pertencimento, todavia a defesa ecológica incrivelmente não se associa a proteção dos oprimidos.

Uma ONG que propõe proteger grevistas do Terceiro Mundo não conquistará muitos simpatizantes, as suas bandeiras vermelhas ou negras são incômodas; também não aparecerão nas mídias oligopolizadas e tão pouco contarão com o apoio de celebridades. Uma ONG que proteja baleias receberá uma repercussão diferente, o verde não postula uma necessária recusa à propriedade e tende a angariar maior simpatia do público. Os movimentos ecológicos conformistas ou moderados poderão ser os escudos para o movimento verde realmente libertário e que reconhece que a salvação do homem implica na inequívoca desestruturação do modo de produção vigente.

No século XXI as pretensões não podem se apequenar, defender a vida no planeta significa o confronto com o capitalismo. A mentalidade preservacionista – nesse momento insignificante – poderá respaldar sentimentos coletivamente compartilhados de identificação com o “natural”. O que agora é cabotino tenderá em ser sincero. No advento da Idade Moderna, os burgueses detinham pensamentos vanguardistas no que concerniam ao comércio e ao lucro, e não com poucas artimanhas conseguiram universalizar tal modo de pensar. Eis o modus operandi que devemos seguir.

Uma boa estratégia é incentivar pequenas frentes locais e regionais, mas dentro de um discurso salvacionista global. A recusa em ter seu entorno, sua morada e suas reservas agredidas por um insano esquema de extração de riquezas pode suscitar vínculos mais sistêmicos. Uma geografia da poluição e uma história das corporações são coordenadas valiosas que dizem respeito mesmo aos mais indiferentes.

O que será retomado nos posts seguintes diz respeito à atuação dos libertários em dois níveis, convencimento e embate. Grupos moderados e com palavras confortantes que adquirem crescente projeção perante a opinião pública, preparando terreno para as tendências radicais e confrontadoras. As duas vertentes se encontram já que há uma retro-alimentação. Espera-se que uma crescente demanda da população por ações “verdes” tenha impacto nos Estados de regime dito democráticos e assim aumente a pressão sobre as corporações.

Vislumbra-se três elementos importantes nas lutas sócio-ecológicas do século XXI. O incentivo à cultura do gratismo – importante nos centros urbanos, que não são produtores, mas consumidores. A atuação em níveis locais/regionais/municipais descentralizando os combates mas tendo como eixo global a perspectiva salvífica da vida. A ênfase na defesa ambiental como estratégia principal em função do seu potencial mobilizador e de convencimento em diferentes níveis sociais e países.

Aqui se tem o início de uma agenda que devemos discutir.

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sábado, 14 de agosto de 2010

Esboços para um pensamento sobre a pirataria



Importa os esforços para a elaboração de um pensamento libertário sobre a pirataria, e com isso apresentamos algumas problemáticas relativas à sua prática. Em uma primeira acepção, a pirataria tende a se conceituar como um ato de interferência em processos produtivos já estruturados visando à apropriação de bens, ícones, imagens e a instrumentalização de fetiches direcionados para o lucro de terceiros, completamente desvinculados dos produtores e proponentes originais.

A imagem clássica é aquela do pirata de olho de vidro e perna de pau que pilha navios e leva a insegurança aos mares, um bandido e fora da lei que atrapalha o fluxo econômico natural. Essa visão estereotipada é comum nas representações cinematográficas e nos livros de história relativos ao período das navegações compreendidos entre os séculos XVI ao XVIII. Os estudos tradicionais sobre o tema apontam, inclusive, que na Antiguidade uma das primeiras formas de comércio (na verdade a menos evoluída) teria sido a pirataria.

Trata-se de uma elaboração do pirata como um sequioso de riquezas que coloca em risco a própria espontaneidade e racionalidade do comércio – ao invés das trocas, a opção feita é pela pura e simples pilhagem. Quando chegamos a Era dos Estados Nacionais, com as políticas mercantilistas e metalistas das monarquias européias, observa-se uma intensificação das atividades piratas. Cabe uma distinção entre o pirata e o corsário, pois este último age em nome do rei, com uma carta que o autoriza a abordar e a tomar as riquezas dos navios das nações rivais.

Não é o “roubo” em si que gera pirataria, mas sim quais os agentes envolvidos no processo de rapinagem. Disputas entre os Estados Nacionais faziam parte da política internacional, sem abalar as economias capitalistas então em gestação. O corsário estava a serviço de uma poder piramidal, um estado coletor de metais dirigido por uma realeza interessada em consolidar seu mando. Já o pirata atuava como o desajustado, aquele incapaz de seguir “o modo natural de se fazer as coisas”. Nesse sentido, nossa primeira constatação enfatiza a natureza desordeira e anti-estatal do pirata. Ele não espera seguir a lei ou ser subserviente ao seu rei.

Que ninguém se engane em pensar que esse pirata dos setes mares seja o protótipo de um anarquista; não, ele também faz parte das engrenagens do capitalismo em seu viés mais parasitário. No entanto, sua atuação representava um ruído ou distúrbio, interferência na lucratividade dos detentores do poder econômico e político. Apresentamos uma segunda ponderação: a pirataria da Idade Moderna se consistiu na atuação de expropriadores particulares rapinando grandes expropriadores. Os países que mais sofreram as ações dos piratas foram as monarquias ibéricas, que por sua vez moviam uma vertiginosa exploração das riquezas na América.

O dito “ladrão que rouba ladrão” é a melhor simplificação da noção de pirataria. A hipótese apresentada sugere que em momentos históricos de extrema expropriação de bens coletivos, agentes individuais (não necessariamente visando o bem público) interferirão nesse roubo, com maior ou menor sucesso. Piratas franceses atacavam navios espanhóis ou portugueses, que por sua vez haviam retirado riquezas das terras americanas.

Essas reflexões nos oferecem um paradigma para a leitura da pirataria, sinteticamente estruturada em três princípios:

1. O pirata é contra a ordem, não por uma vocação ideológica, mas em busca do benefício próprio.

2. A pirataria é a apropriação de uma apropriação prévia.

3. A pirataria é uma resposta a momentos históricos no qual abundam os roubos orquestrados por grandes centros de poder e inexistem canais ou forças com eficácia para impedir essas expropriações.

Nesses parâmetros, a atitude do pirata é egoística, mas suas implicações tendem a ser libertárias. O pirata trás a tona a opressão do Estado e, inconscientemente, questiona suas pretensões de controle. Quando criança, lembro que em meu passeio pelo parque, chamava atenção as vendedoras de maçã do amor. Eram maçãs muito bonitas, caramelizadas e cobertas de granulados coloridos. Mas essas vendedoras tinham que fugir dos fiscais municipais, ou seus produtos seriam aprendidos. Eu não conseguia entender como a venda de maçãs podia ser irregular.

Aquelas mulheres eram piratas, pois questionavam e usurpavam as prerrogativas do Estado: “A minha maçã eu vendo para quem eu quiser, aonde eu quiser e como eu quiser”. Intencionavam o lucro, mas desafiavam uma esfera de poder que se julgava no direito de dar a licença a uma barraca e negá-la a uma ambulante.

Portanto, em nossa tentativa de compreender os reais significados da pirataria vamos encontrar uma verdade que não pode ser tangenciada: os piratas são fracos. Jamais enfrentarão frontalmente os conglomerados de poder – as principais armas piratas são o anonimato, as ações subterrâneas e as fugas. Não vale a pena insistirmos na romantização do pirata, ele esconde hoje para escapar amanhã.

A atual pirataria somente não foi extinta pelos grandes centros do poder (tal como aconteceu com os piratas dos mares no século XIX) porque ela se encontra muito disseminada e pulverizada. Existe também uma modalidade contemporânea – talvez erroneamente chamada de pirataria – que promove uma apropriação dos bens pertencentes aos detentores de capitais sem visar lucro particularizado e expressando intencionalidades políticas. Questionamentos ao capitalismo e ao consumismo integram as agendas dos partidos piratas europeus, mas estamos diante da utilização de uma imagem dos bucaneiros da Era Moderna discrepante de suas reais vocações.

Disponibilizar arquivos MP3 em um site não equivale a venda de DVDs na Rua Augusta. As intenções diferenciam essas duas práticas, não obstante ambas serem tidas como pirataria. Na verdade, são justamente os piratas confessos os mais vulneráveis aos ataques, porque se esquecem de manter a condição básica de foras da lei: anonimato e enfrentamento indireto. Nos últimos meses, vários canais que compartilhavam filmes, livros, músicas e jogos saíram da rede, em ações coordenadas por associações de Direitos Autorais. Esses piratas convictos são alvos fáceis e a confusão feita no nível teórico certamente pode significar uma derrota definitiva.

A crença de que o compartilhamento de arquivos na rede é invencível carrega um otimismo perigoso. O Estado (demorando mais ou menos tempo) sempre logrou em infligir sérios danos aos seus questionadores. Essa pirataria heróica e voluntária não tem encontrado condições (contexto) favorecedoras para a expansão. Nesse exato momento os conglomerados de poder estudam mecanismos para extirpá-la em definitivo. Creditar o sucesso desses web-bucaneiros às novas ferramentas informacionais sugere uma tecnofilia ingênua.

O presente ensaio diferencia a pirataria clássica da pirataria heróica e politizada, apostando em uma possibilidade maior de sucesso da primeira forma. Isto porque a pirataria é inerente às fases mais selvagens e canibalescas do capitalismo, não representam em nenhuma medida um caminho para a superação do status quo. Antes, reforçam a busca pelo consumo por todos os meios disponíveis.

Como força de antagonização ao capital, a pirataria deve evoluir para formas mais consistentes, deixando de se focar exclusivamente na bandeira da “livre distribuição” e enfatizar a “livre produção”. A obsessão em adquirir os bens expropriados e acumulados pelos conglomerados de poder minimiza os potenciais rebeldes desses novos piratas. Um questionamento mais profundo traria a tona a problematização da indústria cultural e da devoção excessiva aos cânones culturais ocidentais, bem como uma crítica à voracidade insaciável pelo consumo de imagens.

A pirataria contribui para a causa libertária, mas sua importância não pode ser exagerada sob pena da obliteração de ações políticas mais articuladas voltadas para o ataque ao Estado e às formas vigentes de produção e apropriação.

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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

É Possível a Anarquia?


Gostaria de fazer algumas reflexões dispersas sobre o anarquismo como movimento social e político. Creio que devo repetir umas coisas e entrar em contradição com outras que já postei aqui, mas que se dane a coerência. Tenho a mente aberta o bastante pra não acreditar em doutrinas ou me enfurnar em orgulhos ideológicos que me impeçam de mudar de postura. Enfim, inveredemo-nos pelas trilhas dessa magnifica área do conhecimento, que é a união da ciência, da intuição e de nossos desejos contraditórios: o “Achismo”.

Historicamente o anarquismo comportou, e ainda comporta, dezenas de adjetivos mas, hoje em dia, penso que ele pode ser visto sob duas grandes perspectivas: o anarquismo tradicional e o dito pós-anarquismo, ou anarquismo pós-estruturalista como preferem alguns.

Não vou gastar tempo falando de um e de outro, mas só puxar pela memória os pontos que justificam e explicam essas duas perspectivas. Basicamente, o chamado anarquismo tradicional se fundamenta em princípios substancialistas e “bem definidos”: classe, sindicato, proletários, hegemonia, capitalismo, estrutura, liberdade (solidamente definida) etc. Vivia-se, ou vivi-se, para alguns, em tempos de harmonia conceitual: tínhamos os inimigos: Estado (burocracia) e Capital (burguesia), e os aliados: classe operária – bastava esperar o dia do grande choque para que vivéssemos no paraíso. Ele nunca veio: nem o grande choque, nem o paraíso.

Pelo lado do pós-anarquismo vemos a prevalência de princípios relativos, advogados com maior força após a crise do estruturalismo epistemológico e, socialmente falando, após o fim da Guerra Fria e o advento da globalização e da dita Sociedade em Rede. Conceitos até então muito bem estabelecidos e que tudo explicavam deixaram, de repente, de ter sentido ou servir de instrumento útil para cientistas, políticos e movimentos sociais. Vieram os tempos da fragmentação, relativização, do individualismo extremado. Mais ainda, era o fim das classes sócias, da politca tradicional, do trabalho como principal fator identitário, a pulverização das ideologias. Alguns até falaram no fim da sociedade...enfim, era o fim das verdades substanciais.

Mas aí chegamos no ponto crucial: como a filosofia anarquista se portou nesse momento turbulento? No meu entender, muito bem – pelo menos numa tendência. O anarquismo tradicional, por sua vez, se é que ainda existe para além de algumas poucas lideranças, organizações sectárias ou meia dúzia de publicações de pouca expressão, está moribundo e sofre de uma certa esquizofrenia que teima a não passar.

Mas e o lado que melhor se adaptou às novas condições? Nem por isso considero que a coisa vá de vento em popa - já esteve melhor, já contou com um fôlego maior e, aliás, o que me motiva a escrever esse texto é justamente um clima de desânimo que me toma face em relação ao dito pós-anarquismo. Clima esse que vem após momentos de grande esperança em vista das novas possibilidades oferecidas nas duas últimas décadas. Na verdade, creio que “esperanças”, ainda mais “grandes”, também são coisas de um passado próximo mas já remoto. Não há mais espaço para grandes narrativas épicas de salvação.

Na verdade vale a pena perguntar: existe alguém que quer ser salvo ou se salvar de algo? Se existir, é dever de um certo movimento libertário executar essa tarefa? Há espaço pro anarquismo enquan to um movimento que vise conquistar a hegemonia? Ou resta apenas nos contentar com Espaços de Sociabilidade Autônoma, grupelhos de discussão, paraísos virtuais e pequenas iniciativas libertárias dentro da sociedade mais ampla? Há como inserir a filosofia anarquista no âmago da sociedade, ou ela só pode ansiar em conquistar alguns adeptos na perspectiva de mais um “estilo de vida”.

Desde pequeno ouço que a Democracia Moderna é a coisa menos pior que o homem já inventou. E como historiador sei que há inúmeros argumentos pró e contra essa perspectiva. Seria isso uma jogada discursiva quer serve apenas para aceitarmos a situação? Ou há uma parte de, verdade nisso tudo, e apenas a democracia, nas suas tipologias mais tradicionais, pode nos trazer a felicidade e a paz social – mesmo que de forma torta e incompleta?

Vale a pena arriscar? Ou todo esforço não seria mais do que dar murro em ponta de faca? O atual sistema é fechado, pesado, imóvel e, frequentemente, burro...mas, por outro lado, vejo que certas garantias duramente conquistadas no decorrer da história se dão justamente em função dessa complexa máquina de pesos e contrapesos que são os estados democráticos modernos. Sem dúvida é um sistema engenhoso, grandemente limitado, mas que lentamente já mostrou algo de positivo de comparado a tempos passados.

Enfim, esse é só um texto pra pensarmos um pouco fugindo de ortodoxias filosofias e políticas. Sou grande admirador da filosofia libertária, mas cada vez mais sinto que ela se limita muito nessa dimensão. Politicamente temos o dever de sermos pragmáticos e flexiveis...chega de confundir filosofia e política. Isso a democracia moderna já mostrou, melhor do que ninguém, que a fusão das duas áreas sempre acaba em merda – por isso mesmo ela chegou “vitoriosa” até aqui. Dói assumir, mas nossos coletivos libertários só existem porque estão dentro de regimes democráticos.

Creio que a questão central não é sobre as possibilidades da anarquia. Mas sim sobre se ela será ou não desejável. E o que seria essa “nova anarquia”? Lanço aqui estas provocações, na intenção de repensar as esperanças libertárias...

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Rock e Ecologia

Aqui, uma versão Metal do nosso futuro próximo. Esse é o novo clipe do Disturbed, "Another Way To Die"

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sociologia do Shopping Center - II

II – Dos Shoppings de luxo


O padrão nórdico deve preponderar.

Um Shopping de luxo deve, inequivocamente, compor uma ambientação que simule a possibilidade de um Brasil ariano. A mestiçagem não pode sequer ser lembrada. Os seguranças, os faxineiros, os vendedores devem se aproximar tão quanto for possível dos estereótipos da branquitude européia.

Um Shopping de luxo destina-se aos europeus terceiros-mundistas, infelizes em suas condições de párias da civilização branca-ocidental. Narcótico eficaz contra a realidade onipresente das favelas, dos mulatos, das desigualdades e das injustiças históricas. Extensão natural dos condomínios fechados e dos espaços não públicos.

Não há entradas, mas pórticos marmorizados, com singelos e obtusos seguranças de olhares dóceis e subservientes, mas atentos o suficiente para impedir o ingresso dos moleques ousados de feições pouco arianas. Não é um tapete de WELCOME que lhe espera; DO YOU HAVE MONEY? eis a expressão mais apropriada.

Com efeito, um Shopping de luxo leva ao paroxismo a promessa do consumo como potencializador de identidades: os clientes-deuses podem tudo – os assédios morais e sexuais são tão corriqueiros que nem merecem ser citados. Consumidores com semblantes contorcidos, carregados em auto-benevolência intrínseca, criaturas mesquinhas que querem fruir cada prazer disponível e, o mais estranho, fazem questão de pagar por eles. A perversão formidável do consumismo consiste no entendimento de que o gozo deve ser quitado, mas uma vez satisfeita a necessidade (que sequer é uma real necessidade) novas premências se manifestam. Perpetuum mobile do comprar e se extasiar e descartar.

Os antigos mestres-escolas se apiedavam, em suas explanações, da inocência dos indígenas que trocavam pau-brasil por bugigangas. Como esses formidáveis moralistas se posicionariam a respeito das sisudas senhoras-cheias-de-grana-de-boa-família que adquirem liquidificadores ao preço de quatro salários mínimos? Será que os nossos antigos mestres também se revelariam ingênuos para responder – tal qual nossas ilustradas madames ainda argumentam – que se paga pelo design?

Há muito mais sinceridade no posicionamento daqueles que pagam e saem calados, céticos quanto a qualquer viabilidade de auto-justificativa. As bugigangas usadas pelos nativos adornavam seus pescoços e braços, úteis para as danças e festanças do cotidiano, coerente com uma sociedade que fazia da vaidade e do amor pela vida o objetivo máximo. Já um liquidificador ao preço de quatro salários não é um liquidificador, mas sim um semióforo. Prova sua riqueza, mas não esconde sua burrice.

Ou será que nem tanto, já que nos Shoppings de alto luxo os preços seguem outra ordem de grandeza distantes da realidade? Lugar onde os preços usuais são multiplicados por cinco, com exceção dos salários dos vendedores, pois não obstante seus traços arianos, ainda são trabalhadores e merecem a exploração.

Ainda que em um nível mínimo, o Shopping é um espaço que tolera a diversidade, mas em um Shopping de luxo essa possibilidade está excluída. Deve haver uma série de barreiras visíveis e invisíveis que inviabilizem a presença dos populares.

Seus compradores são tão ricos quanto tolos, pois necessitam despender vultuosas quantias para aplacar o vazio do cotidiano e tamponar os receios típicos daqueles que são ilhas endinheiradas em um mar de miséria.

Dignos de pena ou de ódio? Merecem nossa compreensão ou zombaria?

Uma coisa é certa, não fazem parte da solução, consistem em elemento nevrálgico e incontornável do problema. E é nos Shoppings de alto luxo que encontraremos todos reunidos.

III – Dos Shoppings populares
Continua.

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O que fazer (1)?

[FOTO: Cidade de Vitória (ES), maio de 2010, por El Luchador Mysterioso]

A onipresença dos automóveis, essas caixas metálicas feias e sobre rodas, fontes de poluição visual, sonora e atmosférica.

Elemento inerente às paisagens urbanas e rural. Se um elogio pode ser feito a eles é o de que conseguem trazer a tona algumas das piores facetas do ser humano.

O discurso da eficiência, conforto e segurança esconde máquinas de segregação e expropriação. Inimigo intrínseco do coletivo e do público.

Mas o que fazer com os automóveis?

Transformá-los em irreverentes jarros de flores (como querem alguns) ou piras flamejantes vermelho-fusco (como querem outros tantos)?

Enquanto a resposta não chega, que pequenas táticas de sabotagem sejam aplicadas...

Fica a cargo da imaginação de cada um...

Onde eu deixei meu coquetel m******?

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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

DOSSIÊ: Viver em Chiapas


Brigada Europeia de Apoio aos Zapatistas - Diário de uma viagem

Nesta página
, os diários de uma visita de militantes europeus às comunidades zapatistas de Chiapas. Impressivas descrições da vida concreta de milhares de mexicanos que, depois da revolta de 1994, decidiram mudar de vida e construir a autonomia. Veja, a seguir ao pequeno texto de apresentação de um dos viajantes, traduzidos na íntegra, os relatos sobre as oito comunidades visitadas.

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domingo, 13 de junho de 2010

COPA-COLA NÃO COLA! Debate sobre a Praça da Estação e seu uso na Copa 2010



CONTRA O DECRETO 13.961, QUE ALUGA A PRAÇA DA ESTAÇÃO!

Participe do debate sobre o uso da praça e da cidade de Belo Horizonte em tempos de Copa do Mundo.


2ª FEIRA, 14 DE JUNHO ÀS 19H em frente à estrutura montada na Praça da Estação para exibição dos jogos da Copa.


Conheça: pracalivrebh.wordpress.com

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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Eventão - Dias 8 e 9 de maio na Praça da Estação




Manifestantes organizam segunda edição do “Eventão”

Movimentação será realizada nos dias 8 e 9 de maio, na Praça da Estação


Dando prosseguimento às manifestações contra o decreto que proíbe eventos na Praça da Estação, manifestantes organizam a segunda edição do Eventão na Praia da Estação neste fim de semana. O evento-protesto será realizado em dois dias.

O protesto contestará, também, a mais recente medida do prefeito Márcio Lacerda, que determina a que a utilização do espaço público da Praça da Estação seja feita após pagamento de taxa de utilização. Tal medida – materializada pelos decretos 13.960 e 13.961 - foi editada na terça-feira, 4 de maio, e promulgada no DOM de 05 de maio.

No sábado, dia 8, haverá o retorno da Praia da Estação, às 10 horas. À uma da tarde, acontecerá a Oficina de Capoeira Angola, seguida por uma roda de capoeira. A Escola de Samba Cidade Jardim também estará presente, com a sua bateria tocando a partir das três da tarde. Fechando a tarde, Carlos Afro & Cia. apresentam um espetáculo de Dança Afrobrasileira. Às 17h, sai o cortejo do flashmob Que Trem É Esse, com a presença do Batuque Santuka.

Já no domingo, após o almoço com as mães, haverá o Boi do Terreiro Santa Isabel, às 15h. Em seguida, bandas do circuito independente de Belo Horizonte também farão sua participação – dentre elas, nomes como Maitê, Tempo Plástico, Grupo Porco & Retrigger e Dead Lover’s. Diretamente do Pará, haverá a participação especial de Juca Culatra & Power Trio.

Além dessa programação, todos que desejarem realizar intervenções são bem-vindos. Todos estão convocados a participar. Mais informações nos links www.pracalivrebh.wordpress.com e www.eventao.wikispaces.com

* Trecho do release de divulgação do 2º Eventão

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